Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 Login
Não há como negar: a Covid-19 mexeu profundamente com a vida de todos nós. A repercussão disso sobre a vida sexual feminina merece consideração e será abordada a partir da discussão feita no estudo Effect of the Covid-19 pandemic on female sexual behavior publicado há pouco tempo no International Journal of Gynecology and Obstetrics. Ao fazer comparações com trabalhos anteriores, este estudo avaliou alguns aspectos da sexualidade feminina durante períodos de guerra ou de desastres naturais e, em suas próprias conclusões, reflete sobre mudanças que podem ser observadas no curso da pandemia.
Características do estudo
Para entender como o novo coronavírus afetou o comportamento sexual das mulheres, a pesquisa foi dividida em 2 etapas. Na primeira etapa, os pesquisadores utilizaram dados de 2 estudos sobre incontinência urinária que já estavam sendo feitos (e que ainda não foram publicados) com pacientes atendidas no ambulatório de urologia e ginecologia entre fevereiro de 2018 e setembro de 2019. Na segunda etapa, uma parte das mesmas mulheres da primeira amostra foi ouvida. Elas foram abordadas este ano (entre março e abril de 2020), por telefone, por causa das limitações e restrições relacionadas à pandemia. É possível que a coleta de informações por telefone na segunda parte do estudo tenha influenciado a resposta das participantes, devendo isso ser levado em consideração.
Graças aos registros dos primeiros trabalhos foi possível obter história médica detalhada de cada paciente, o que inclui a idade, o índice de massa corporal (IMC), o grau de escolaridade, o nível de renda, a presença de comorbidades, o número de partos, informações sobre a menstruação, frequência da atividade sexual e desejo de engravidar. Elas também deveriam preencher o Female Sexual Function Index (FSFI), um questionário de 19 questões em que se avalia o funcionamento sexual feminino.
Foram, então, comparados os dados registrados na primeira parte (entre 6 e 12 meses antes da pandemia) com as informações colhidas na segunda parte, entre março e abril de 2020. Os tópicos avaliados foram: frequência das relações sexuais, o desejo de engravidar, o FSFI, o tipo de contraceptivo que usavam e a presença de infecção vaginal.
A amostra foi composta por apenas 58 mulheres com mais de 18 anos e que não estivessem na menopausa. Foram excluídas as pacientes com história de incontinência urinária, cirurgia pélvica ou ginecológica, prolapso de órgão pélvico, malignidade, doença neurológica ou psiquiátrica, radiação pélvica, doença cardíaca, insuficiência renal, hepatite B ou C, infecção por HIV, aquelas que relataram problemas conjugais, com teste positivo para Covid-19 ou que moravam com alguém que tivesse testado positivo para a doença ou com pessoa suspeita de tê-la contraído.
Limitações
O fato de a amostra ser pequena (apenas 58 participantes) poderia ser compreendido como uma limitação, apesar de análises terem sido feitas para se chegar a esse número mínimo de participantes de forma a tornar a análise significativa. A média de idade das participantes era de 27,6 anos e o IMC de 27,9. Já a idade média da menarca foi de 11,9 anos e da sexarca de 21,1 anos.
Conclusão
Resumindo, neste trabalho observou-se que houve um aumento da frequência de relações sexuais durante a pandemia de Covid-19 em comparação com o período que a antecedeu. Em compensação, se antes da pandemia 32,7% das mulheres avaliadas tinham o desejo de engravidar, após, esse número caiu para 5,1%. Curiosamente, o uso de métodos contraceptivos diminuiu significativamente. Também foi observado um aumento de alterações relacionadas à menstruação.
De forma complementar, os resultados do questionário FSFI foram melhores antes da pandemia do que durante a mesma. Dentro dos domínios avaliados por essa escala, apenas o desejo sexual aumentou com a pandemia de Covid-19, enquanto 3 outros domínios importantes (excitação, orgasmo e satisfação) foram maiores antes da pandemia. A partir disso, os autores concluíram que apesar de a frequência sexual ter aumentado durante a pandemia, a qualidade da vida sexual dessas mulheres diminuiu.
Finalmente, devemos considerar a necessária cautela ao extrapolar essas conclusões para outras realidades por diversos fatores, apesar de eles poderem indicar algumas alterações que já podem estar ocorrendo na vida sexual das mulheres ao longo deste ano marcado pela Covid-19. Também devemos avaliar que este estudo manteve seu foco apenas sobre o comportamento sexual feminino. No entanto, o comportamento sexual masculino também foi afetado pela pandemia de Covid-19, o que também pode impactar sobre as atitudes femininas.
Fonte: PEBMED
Autor(a): Paula Benevenuto Hartmann
Psiquiatra pela UFF ⦁ Graduação em Medicina pela UFF
Referências bibliográficas:
COMUNICAÇÃO PARA A SAÚDE
Informação que salva vidas: a importância da mídia em campanhas como o Novembro Azul