Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 Login
Existe uma cultura que associa parto normal à dor incontrolável, que deveria ser esclarecida durante o pre-natal
Foto: Divulgação
O Brasil é o segundo país com a maior taxa de cesáreas do mundo, ultrapassando 55% dos partos e perdendo apenas para República Dominicana. Este dado contraria a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que preconiza uma taxa de 10-15% de cesarianas, pois há evidência que acima desses valores, ao invés de o procedimento cirúrgico estar sendo bem indicado provavelmente está levando a maior morbimortalidade para o binômio mãe-bebê. Para se ter uma ideia da epidemia que ocorre no Brasil, podemos comparar com regiões desenvolvidas como a Europa, cuja taxa de cesáreas é de aproximadamente 25% e nos EUA 32%.
Para poder monitorar e comparar a indicação de parto cesárea em diversos países, em 2011 a OMS sugeriu o uso da Classificação de Robson como a mais adequada, baseada em parâmetros obstétricos, essa classificação consegue dividir as gestantes em 10 grupos, a saber:
1 Nulípara, ≥ 37 semanas, feto único e cefálico, início de trabalho de parto espontâneo
2 Nulípara, ≥ 37 semanas, feto único cefálico, parto induzido ou cesárea programada
3 Multípara (sem cesárea), ≥ 37semanas, feto único cefálico, trabalho de parto espontâneo
4 Multípara (sem cesárea), ≥ 37semanas, feto único cefálico, parto induzido ou cesárea programada
5 Multípara, ≥ 37semanas, feto único e cefálico, cesárea prévia
6 Nulíparas com feto em apresentação pélvica
7 Multíparas com feto em apresentação pélvica
8 Gravidez múltipla
9 Feto em apresentação transversa ou oblíqua
10 < 37 semanas, feto único e cefálico (qualquer paridade)
Baseado nesta classificação, artigo publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia em 2020 avaliou a diferença entre as taxas e indicações de cesárea nas 5 regiões brasileiras. Foi realizado um estudo de coorte transversal com obtenção de dados pelo Datasus incluindo todos os partos de nascidos vivos no Brasil entre 2014 e 2016.
Resultados
Neste período ocorreram mais de 8 milhões de nascimentos no Brasil e a taxa de cesáreas foi de 56%, sendo o Centro-Oeste a região com maior taxa e o Norte a com menor. O grupo 5 foi o que mais evoluiu para parto cesárea, refletindo o quanto a presença de uma cesárea anterior é grande fator de risco para um novo parto cirúrgico. Entre as regiões, a proporção de mulheres em cada grupo variou, sendo predominante o grupo 5 no Sul, Sudeste e Centro-oeste, enquanto no Norte e Nordeste o grupo 3 foi maior, composto por multíparas sem cesárea anterior e com início de trabalho de parto espontâneo.
Mensagem prática
Em nosso país, tem-se uma cultura que associa parto normal à dor incontrolável e medo de maus desfechos perinatais, possivelmente por grande parte dos serviços não disporem adequadamente de métodos de analgesia e também de assistência próxima e contínua à parturiente. Desde o pré-natal deve ser conversado sobre as vias de parto, esclarecer as dúvidas e receios das pacientes. O emprego da Classificação de Robson ajuda a entender o panorama das mulheres que internam para parto e na ausência de uma real indicação de cesárea, o parto normal deve ser estimulado uma vez que apresenta menores riscos não só na resolução desta gravidez mas também reduz risco de complicações em gestações futuras.
Autora: Juliana Alves Pereira Matiuck Diniz
Graduação em medicina pela UNICAMP ⦁ Residência de Ginecologia e Obstetrícia pela UNICAMP ⦁ Especialização em endoscopia ginecológica no Hospital Pérola Byington ⦁ Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia
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