O arquiteto Pedro Moriyama, 37, já estava em um relacionamento há dez anos. Apesar da sua companheira já ter expressado a vontade de ter um bebê, ele sempre acreditou que não levava jeito com criança. “Eu não pensava em ser pai. Nunca tive esse desejo. Acho que porque eu sempre fui egoísta. Sempre achei que para ser pai, a única coisa que você não pode é ser egoísta", conta.
Mas o xará do pai, o pequeno Pedro, de 5 anos, veio "meio que por acidente". "Deixamos de nos cuidar e Pedro veio. A própria gravidez vai preparando a mulher para a maternidade. Já eu, virei pai quando vi e peguei o Pedro pela primeira vez. E, para a minha surpresa, me descobri pouco egoísta, porque a paternidade é um divisor de águas. Percebi que a gente consegue se doar para outra pessoa sem necessariamente se esquecer. Ele é completamente parte da minha vida, parte de quem eu sou. É muito fácil eu me importar mais com ele do que comigo porque ele é minha continuação", conta o pai, com muita segurança.
Mas não foi fácil. Pedro conta que o filho chegou muito antes do previsto. "Ele nasceu prematuro, ao final do sexto mês. A gente ainda não tinha mudado de casa, não tinha escolhido um nome, não tinha nada... Então, um dia fui dormir garoto e acordei pai. Foi chocante! Mas no final das contas, a questão da prematuridade me fez participar mais do final da gestação, porque ele nasceu em uma maternidade que faz o chamado 'canguru' — onde a encubadora é substituída pelo calor do corpo. Então, a gente podia ficar com ele em tempo integral, sem limite de horas", lembra.
Pedro conta que ficava de 6 a 8 horas por dia com o filho no canguru. "Eu passava minhas noites todas lá", lembra. E também foi no hospital que Pedro e a mulher aprenderam tudo sobre bebês. "Aprendemos com profissionais como trocar fraldas, dar banho, alimentar...", afirma. Então, quando o pequeno finalmente recebeu alta, depois 60 dias de hospital, os pais já estavam acostumados com a rotina de um recém-nascido. "Chegamos em casa preparados. A gente já estava completamente integrado", diz.
"NOSSO TEMPO"
Também por causa da prematuridade, o casal precisou reorganizar a rotina para ficar com o filho em tempo integral. E deu tão certo que eles deram continuidade a esse "esquema" até os dias de hoje. "Desde que ele chegou, eu passo metade do dia com ele. Minha esposa passa a outra metade. Então, esse vínculo é muito natural pra gente”, completa.
Mas Pedro admite que passar mais tempo com o filho, significa também abrir mão de algumas coisas. “Eu acho que essa questão de ter tempo para os filhos é um desafio da nossa geração. Nós resolvemos ganhar um pouco menos, fazer um esquema de trabalho diferenciado para poder vivenciar uma vida de casa, família e filhos, e ser, de verdade, presentes, e não compensar a falta financeiramente. Hoje, ganho menos, mas passo mais tempo com o meu filho. Eu tenho muito mais horas de lazer, a gente anda de bicicleta juntos, anda de skate juntos e já temos nossas atividades", conta.
Para Pedro, é um tempo recompensador — e não só a curto prazo. "Estou participando mais ativamente de uma das fases mais importantes da vida dele. Estou presente na formação de quem ele é. Ele é filho da nossa casa, ele é filho da nossa família”, diz. "Estamos formando um indivíduo. O Pedro já se expressa, se apresenta como sendo uma pessoa, ele não 'vai ser quando crescer', ele já é. Acho que isso tem muito a ver com o tempo que a gente pode ficar com ele de verdade, sem se preocupar com outras coisas", finaliza.
Fonte: Revista Crescer