Domingo, 24 de novembro de 2024 Login
O Ministério da Saúde decidiu incluir as grávidas e puérperas (mulheres no período pós-parto) no grupo prioritário para receber a vacina contra a covid-19, informou nesta terça-feira (27) a coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) do ministério, Franciele Francinato.
Em audiência na Câmara dos Deputados para debater a situação das vacinas no país, a coordenadora disse que a medida foi tomada em razão da situação preocupante da pandemia no Brasil e visto que grávidas e puérperas têm risco maior de hospitalização por covid-19. "A vacinação deve começar a partir do dia 13 de maio", informou.
Em 15 de março, o governo já tinha incluído as gestantes com comorbidades. De acordo com Franciele, uma nota técnica foi encaminhada ontem (26) aos secretários estaduais de Saúde, com as novas orientações.
“Nossa indicação é que, nesse momento, vamos alterar um pouco a recomendação da OMS [Organização Mundial de Saúde] que hoje indica a vacinação, de acordo com o custo x benefício. Mas, hoje, o risco de não vacinar gestantes no país já justifica a inclusão desse grupo para se tornar um grupo de vacinação nesse momento”, afirmou.
Apesar da mudança, de acordo com a pasta, em um primeiro momento, devem ser vacinadas as grávidas com doenças pré-existentes. De acordo com a coordenadora, serão usados as vacinas Coronavac, AstraZeneca e da Pfizer. Neste caso, o primeiro lote de entregas do imunizante deve chegar na próxima quinta-feira (29) e 1,3 milhão de doses serão distribuídos para utilização nas capitais.
Franciele disse que a medida foi tomada devido a necessidade de armazenagem das vacinas. Para manter a estabilidade do material, a vacina precisa ficar armazenada em temperaturas de -90° a -60°, por até seis meses.
No caso das capitais, as doses serão encaminhados aos centros que podem manter o imunizante em temperaturas de -20° pelo período de sete dias.
“Para a aplicação, a vacina pode ficar em temperatura de geladeira, de até 8°, por até cinco dias”, afirmou.
Mulheres devem adiar gravidez, aconselha Ministério da Saúde
No dia 16 de abril, o secretário do Ministério da Saúde Raphael Parente recomendou que as mulheres brasileiras, se possível, adiassem seus planos de gravidez durante o período da pandemia de Covid-19.
A recomendação é com base em estudo realizado pelo CDC, que reuniu mulheres sintomáticas de 15 a 44 anos nos Estados Unidos com infecção confirmada por laboratório entre em 30 de janeiro e 3 de outubro de 2020, que indicou que as gestantes tinham uma probabilidade significativamente maior de necessidade de terapia intensiva (10,5 casos por 1.000, frente a 3,9). Também se duplicava o risco de que fossem necessária ventilação mecânica e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). O estudo detectou também que a probabilidade de morte era maior: 34 mortes (1,5 por 1.000 casos) entre 23.434 mulheres grávidas sintomáticas, e 447 (1,2 por 1.000 casos) entre 386.028 mulheres não grávidas, o que reflete um aumento de 70% no risco de morte associado à gestação.
Esses riscos, além do mais, se agravam com a idade: as mulheres grávidas de 35 a 44 anos com Covid-19 tinham quase quatro vezes mais probabilidades de precisar de ventilação invasiva e duas vezes mais probabilidades de morrer que as não gestantes da mesma idade, aponta a pesquisa do CDC
Por que gestantes possuem mais risco?
Os pesquisadores ainda não têm respostas e sim hipóteses. A principal delas se baseia na imunomodulação que o organismo materno desenvolve para diminuir a rejeição ao feto, ocasionando assim uma pior resposta às doenças de uma forma geral.
Posicionamento da FEBRASGO
O presidente da Federação de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Agnaldo Lopes ratifica que a escolha por engravidar ou não, deve ser sempre da mulher, e o obstetra deve aconselhá-la e apoiar a decisão. Além disso, ele enfatiza que postergar um ano ou mais os planos de engravidar poderia impactar de forma determinante na fertilidade da paciente, bem como aumentar riscos de hipertensão, diabetes e abortamento.
Alinhada ao posicionamento da FEBRASGO, no final do ano passado foi publicado no The New England Journal of Medicine artigo com opiniões e entidades que defendem que o aconselhamento sobre como evitar a gravidez tende a se basear em uma doutrina de aconselhamento não-diretivo, em que um médico oferece informações sobre os riscos e abordagens para minimizá-los e apoia as pacientes na tomada de decisões informadas”.
De forma bastante pertinente, o artigo divulgado no New England faz uma analogia à diabetes, que também está associada a um risco aumentado de aborto espontâneo, prematuridade, restrição de crescimento, mortalidade perinatal e macrossomia, e mulheres grávidas com diabetes estão em risco de infarto agudo do miocárdio, progressão da retinopatia, nefropatia e cetoacidose diabética. E apesar desses riscos, muitas mulheres com diabetes optam por engravidar.
O exercício da autoridade pública em uma área tão profundamente pessoal e privada como a decisão sobre se e quando ter um filho requer forte justificativa, dadas as muitas questões éticas que levanta.
Com informações do Ministério da Saúde e PEBMED
Fotos: divulgação