Terça-feira, 26 de novembro de 2024 Login
Umuarama conta com profissionais de Psicologia e Psicopedagogia no atendimento em Libras
Foto: Divulgação
Uma das grandes dificuldades do surdo é lidar com suas emoções e sentimentos. Não porque seja diferente dos ouvintes, que vivem os mesmos conflitos e angústias, mas pela inexistência de um sistema de atendimento psicológico que contemple suas necessidades e peculiaridades.
A terapia com surdos é uma tarefa penosa, que requer muita dedicação e paciência, pois além do surdo, o trabalho se estende à família, um dos principais focos dos conflitos da pessoa surda. Poucos se dão conta da dimensão do sofrimento psicológico e moral do surdo. A falta de comunicação, o isolamento e o preconceito fazem do surdo um ser dependente do ouvinte, ainda que tenha conseguido avançar em sua educação e desenvolvimento cognitivo. Essa dependência reduz sua auto-estima, produzindo conflitos que muitas vezes são interpretados equivocadamente como comportamentos típicos do surdo, como agressividade, intolerância, individualismo e incapacidade intelectual, quando na verdade essa visão resulta do desconhecimento do mundo dos surdos. Contudo, não se pode negar que a cada dia os surdos progridem em suas conquistas e afirmação como cidadãos.
Muitas vezes me perguntam qual a abordagem terapêutica que adoto no atendimento ao surdo. É uma curiosidade natural. Afinal os psicólogos seguem geralmente uma tendência teórica pela qual tem afinidade e preferência. Mas eu afirmo que se nos limitarmos a uma única abordagem terapêutica no caso dos surdos, vamos restringir nosso campo de ação. Há um universo muito amplo de variáveis e especificidades no tratamento psicológico do surdo. É preciso considerar:
Essa gama de condições e peculiaridades exigem do terapeuta uma postura profissional eclética, além da possibilidade de ter que intervir com aconselhamento em conflitos familiares, judiciais e nas relações de trabalho.
Não basta, portanto, dar consultas no consultório, e torcer para que o surdo resolva seus problemas. É fundamental que o terapeuta esteja aberto a uma visão holística do atendido em suas dimensões física, mental e espiritual (no sentido de espiritualidade e não de religiosidade).
Não se descarta, portanto, o uso de técnicas e procedimentos da terapia comportamental, cognitiva, gestaltista, e mesmo psicanalítica, e de outras abordagens. Cada caso requer procedimentos próprios e compatíveis com a especificidade do cliente. Sem falar na necessidade do trabalho interdisciplinar, com o fonoaudiólogo, o psicopedagogo, o psiquiatra e outros profissionais.
Na condição de terapeuta de surdos, muitas vezes precisei participar de audiências na justiça, em processos criminais e de direito de família para justificar laudos, esclarecer condutas do cliente diante do juiz, bem como visitar empresas para dialogar com empregados e chefes ouvintes, com o objetivo de melhorar as relações de trabalho.
Diante das peculiaridades do comportamento do surdo, desenvolvemos ao longo de nossa experiência clínica, alguns procedimentos básicos para diagnóstico e tratamento, tais como:
O psicólogo que deseja trabalhar com surdos deve primeiramente entender que essa é uma área de grande demanda. No entanto, a quase totalidade dos surdos nunca teve acesso à psicoterapia, devido ao alto custo - e somente uma minoria tem condições financeiras para o tratamento - ou simplesmente porque o poder público não oferece esse tipo de atendimento e quando oferece, é precário e sem profissionais habilitados e capacitados para essa especialidade. Até mesmo porque não existem cursos de capacitação para terapeutas de surdos. Desse modo, é muito difícil encontrar profissionais em todo o país que se dediquem a essa prática.
Outra exigência é que o psicólogo precisa aprender Libras, o que pode hoje ser feito com facilidade, pois há oferta de cursos, pelo menos nas principais capitais e cidades de maior porte. O aprendizado de Libras só se torna efetivo com a convivência com a comunidade surda, através de Associações e grupos de surdos.
É fundamental que o terapeuta realize pesquisas sobre surdez, sobre a cultura e identidade surda, a partir do próprio trabalho que realiza e também associando-se a grupos de pesquisas que existem em Universidades e outras instituições que atendem surdos.
A competência do terapeuta vai sendo construída com o tempo e pelo desejo de servir a essa causa tão importante, que é preparar o surdo para exercer seus direitos e deveres de cidadão e oferecer a possibilidade de atendimento psicológico a essa minoria tão sacrificada e discriminada desde a antiguidade.
Fica aqui um desafio para os futuros psicólogos que estão em formação e profissionais já atuantes, no sentido de que lancem um olhar sobre o universo dos surdos, tão fascinante e intrigante, e ainda tão inexplorado. São tantas as perspectivas para pesquisa e estudos na área de aprendizagem, percepção, linguagem, desenvolvimento, enfim, um vasto campo de crescimento e aprimoramento profissional.