Domingo, 24 de novembro de 2024 Login
O caminho para que um paciente chegue até o tratamento específico para o seu tipo de câncer é longo. A trajetória engloba idas e vindas às unidades de saúde, suspeitas, consultas, exames, receios, ansiedade e até a dúvida. Afinal, o câncer pode ser difícil de ser identificado e, por este motivo, às vezes só é diagnosticado tardiamente. Por conta disso, existe um processo que deixa de ser um acessório da consulta para se tornar o protagonista: anamnese.
Apesar do nome difícil, a anamnese é uma entrevista feita pelo médico a fim de entender todos os pormenores que levaram o paciente a estar ali naquele consultório, naquele momento específico. “A anamnese é essencial para descobrirmos os sintomas que o paciente apresenta, o início e a evolução desses sintomas, o histórico de doenças do paciente e de sua família e descobrir vícios como tabagismo, etilismo ou drogadição, que o paciente apresente atualmente ou já apresentou. Assim, a anamnese é o primeiro passo para poder definir um diagnóstico ou uma suspeita diagnóstica e, a partir disso, delimitar o tratamento”, explica a médica cancerologista do Hospital Uopeccan, dra. Mariana Moreira.
Na oncologia, a anamnese não é muito diferente daquela que é feita e aplicada em outras especialidades médicas. Porém, é muito importante que o paciente conte tudo o que sente, já que o câncer pode se manifestar por meio de alguns sinais considerados “pequenos” para os pacientes, mas extremamente significativos para os médicos. “Alguns sintomas são sinais de alerta para o médico generalista que o levam a pensar em câncer como uma perda de peso rápida e sem explicação clara; febre persistente há mais de 3 semanas sem doença infecciosa causando; presença de sangue no vômito, nas fezes, na urina ou no escarro; dificuldade para deglutir alimentos; icterícia ("amarelão") persistente; sangramento vaginal em mulher já na menopausa; alterações físicas na mama e aumento do tamanho da barriga rapidamente”, enumera a médica.
Estes sinais de alerta, no entanto, podem estar associados a várias outras doenças. Por isso, surge um questionamento importante: ao perceber qualquer sinal como esses que foram citados, quando o paciente deve realmente procurar um médico oncologista? Segundo a doutora Mariana Moreira, este encaminhamento deve vir de outro médico. “Nosso sistema de saúde é dividido em níveis de atendimento. O objetivo é evitar que os hospitais fiquem superlotados de pacientes que não precisariam estar em acompanhamento e pra agilizar o atendimento daqueles que precisam de um atendimento rápido pelo risco de vida inerente. Por isso, a Unidade Básica de Saúde seria o nível primário de atendimento pelo qual o paciente dá entrada ao sistema e será avaliado pelo médico quanto à gravidade do seu quadro e às hipóteses diagnósticas. A partir daí, o médico decide se o tratamento pode ser feito por ele mesmo ou por um especialista, que seria o nível secundário”, esclarece a dra. Mariana.
NOME E SOBRENOME
Além de ser uma doença de muitas “caras”, o câncer também tem alguns sinais específicos para ser identificado. Segundo a médica cancerologista, não existe fórmula mágica para entender o tumor e seus desdobramentos, mas existe, sim, um fator especial que auxilia os profissionais nesta fase da consulta: a educação em saúde. “O diagnóstico do câncer, assim como de qualquer doença, depende da combinação de queixas do paciente e de sinais achados no exame clínico. A manifestação de cada tipo de câncer depende da biologia molecular do tumor, que produz hormônios para proporcionar seu crescimento e inibir seu ataque pelo sistema de defesa do paciente, do tipo histológico do tumor... Eu brinco que o câncer tem nome e sobrenome assim como as pessoas e essa informação é essencial para o tratamento adequado”, afirma.
Nesse sentido, a educação na saúde volta a ser discutida. “Tanto para os profissionais da área quanto para a população em geral, a educação é essencial para saber quais sintomas estão se manifestando e para que haja valorização na suspeita do câncer”, finaliza.
Com profissionais mais atentos desde o nível primário e com pacientes se sentindo mais confortáveis a contarem tudo e não esconderem nada dos seus médicos, o câncer, aos poucos, caminha para deixar de ser uma doença cercada pelo medo e tabu para ser complementada pela informação e conhecimento.
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