Quarta-feira, 13 de novembro de 2024 Login
Após as seis semanas de intervenção, as voluntárias emagreceram 1,8%, o equivalente a um quilo por semana
Foto: Divulgação
Dieta com restrição de calorias pode induzir modificações bioquímicas no DNA de mulheres obesas capazes de reverter a propensão a certos tipos de câncer, indica estudo coordenado por pesquisadores brasileiros e espanhóis. O estudo foi publicado no European Journal of Clinical Nutrition.
O trabalho faz parte de um projeto que avalia em pacientes obesas submetidas a diferentes intervenções terapêuticas o padrão de metilação do DNA. Esse processo bioquímico pode alterar a expressão de alguns genes, fazendo com que o desenvolvimento de doenças seja incentivado ou inibido.
“Conseguimos mostrar que indivíduos com e sem obesidade têm um perfil diferente de metilação do DNA em alguns genes específicos e que isso pode ser modificado com a perda de peso. Dependendo da intervenção, as vias modificadas são diferentes e o padrão não necessariamente volta a ser o de um indivíduo com peso normal”, explica uma das autoras do estudo, Carolina Nicoletti, professora colaboradora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), em entrevista ao portal da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Como foi realizado o estudo
Onze voluntárias com obesidade grave e idades entre 21 e 50 anos foram avaliadas. Amostras de sangue antes e depois de uma intervenção dietética de seis semanas foram coletadas.
As pacientes, que ficaram internadas durante todo o período na Unidade Metabólica do Hospital das Clínicas da FMRP-USP, receberam uma dieta de 1.800 e 1.500 quilocalorias diárias no primeiro e segundo dia, respectivamente, e de 1.200 quilocalorias por dia no restante do período.
Uma equipe formada por médicos, enfermeiras e nutricionistas garantiu a adesão de todas as pacientes à dieta. Os níveis diários de atividade física que elas mantinham antes da intervenção não foram alterados.
Redução de riscos
Após as seis semanas de intervenção, as voluntárias emagreceram 1,8%, o equivalente a um quilo por semana.
“Comparado com a cirurgia bariátrica, pode parecer pouco, mas é uma perda significativa. Quando se trata de uma pessoa de 150 quilos que precisa perder 50, é necessário levar em consideração que a mudança não vai acontecer em dois meses, mas provavelmente durante o ano inteiro”, diz Carolina Nicoletti.
O perfil de metilação foi medido com uma ferramenta capaz de avaliar simultaneamente 500 mil regiões do DNA. Foram comparados os padrões das mulheres obesas antes e depois da intervenção, além de um grupo controle, sem obesidade e da mesma faixa etária.
Antes da intervenção, todas as mulheres apresentaram diferenças em 1.342 regiões do genoma, presentes em 953 genes, sendo que mais de 80% das regiões estavam hipermetiladas no grupo sem obesidade.
Ao comparar a metilação do DNA das mulheres com obesidade antes e depois da intervenção foram observadas alterações em 16.064 regiões do genoma, localizadas em 9.236 genes. Os níveis de metilação foram reduzidos em 16% na maior parte das regiões analisadas. Genes como SULF2, GAL e SNORD2, envolvidos em alguns tipos de tumores, como de mama e colorretal, estavam 35% menos metilados após a intervenção.
“Encontramos muitos pro-oncogenes, genes relacionados ao desenvolvimento de câncer. Eles estavam menos metilados nos obesos, o que significa que têm uma expressão maior, favorecendo a formação de tumores. A modificação ocorrida após a intervenção dietética sugere a diminuição dos riscos da ocorrência de câncer nessas pessoas”, explica Carolina Nicoletti.
Apesar da melhora, o estudo ressalta que a intervenção não igualou o padrão de metilação das mulheres dos dois grupos. No entanto, a continuidade na perda de peso poderia levar a isso.
A pesquisa vai continuar com o grupo de pesquisadores analisando dados de metilação de DNA em pacientes submetidas à cirurgia bariátrica e exercícios físicos.
Segundo os autores do estudo, a continuidade da investigação científica tende a contribuir para o entendimento da obesidade, do câncer e da relação entre os dois.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Fonte: PEBMED
Autora: Úrsula Neves
Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), pós-graduada em Comunicação com o Mercado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e em Gestão Estratégica da Comunicação pelo Instituto de Gestão e Comunicação (IGEC/FACHA)
COMUNICAÇÃO PARA A SAÚDE
Informação que salva vidas: a importância da mídia em campanhas como o Novembro Azul
ATENÇÃO ESPECIAL
Novembro Roxo no Hospital Norospar: cuidado humanizado no tratamento da prematuridade