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Cientistas Brasileiras, em apenas 48 horas sequenciaram o genoma do Coronavirus (COVID-19) do primeiro caso da doença confirmado no Brasil

Foto: Divulgação

Sequenciamento do coronavírus possibilita o desenvolvimento de vacinas

Publicado em 17/03/2020 às 09:19
Cientistas brasileiras, Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na USP, em apenas 48 horas sequenciaram o genoma do coronavírus (COVID-19) do primeiro caso da doença confirmado no Brasil.
 
E para entender mais sobre esse sequenciamento do coronavírus, o Blog da Saúde conversou com duas pesquisadoras que fazem parte do grupo, a Dra. Camila Malta Romano, pesquisadora científica dos LIMs do Hospital das Clinicas e do Instituto de Medicina Tropical e a professora. Dra. Maria Cássia Jacintho Mendes Corrêa, Professora Associada do Departamento de Doenças Infecciosas (USP) e coordena o Ambulatório de Hepatites Virais do Hospital das Clínicas (USP), para entender melhor esse assunto. Confira: 
 
 1. Inicialmente pode nos explicar o que seria um sequenciamento de genoma?
 
Sequenciamento é a leitura do genoma de um organismo. Todos os organismos vivos são compostos por DNA, ou RNA. Tanto um como outro são formados por um conjunto de letras (bases nitrogenadas) que funcionam como um código (palavras). Por exemplo, cada trinca de bases nitrogenadas – letras- representam um aminoácido, que nada mais é do que um bloquinho utilizado para construir as proteínas de um organismo. Portanto, como analogia, entenda-se que o genoma é o conjunto de palavras de um livro, que só pode ser lido se cada letra de cada palavra for corretamente identificada. No caso da coronavírus, seu genoma é de RNA.
 
2. De que forma é feito um sequenciamento?
 
Ha diversas formas atualmente de sequenciar um genoma, ou parte dele. Uma das maneiras mais básicas, e utilizadas por várias plataformas de sequenciamento utiliza marcadores acoplados as bases (letras) chamados de fluoroforos. Basicamente, fazemos uma cópia do DNA a ser sequenciado, utilizando para a síntese dessa cópia essas bases com marcadores no lugar das bases (letras) comuns que estão sendo copiadas. Após feita a cópia utilizando marcadores coloridos/fluorescentes, um aparelho “escaneia” esse DNA marcado, e interpreta as cores dos marcadores utilizados para sintetizar esse DNA. Essa interpretação, portanto, nos retorna qual é a sequência certinha das bases nitrogenadas (letras) que compunham o DNA copiado.
 
3. Como vocês chegaram ao sequenciamento do coronavírus?
 
Uma tecnologia chamada MinION, uma plataforma já utilizada em projetos anteriores aqui no Brasil para o sequenciamento de ZIKA vírus foi usada.
 
4. Como foi possível realizar este sequenciamento em apenas 48 horas? Normalmente, qual seria o tempo para tal descoberta?
 
Quando protocolos estão estabelecidos, não demora muito para realizar. O grande feito aqui foi que não havia ainda nada pronto aqui, não se tinha padronizado a técnica para o genoma de coronavírus, portanto, essa etapa, de padronização geralmente é mais demorada e pode levar dias ou semanas, a depender da dificuldade. O Grupo que o fez realizou essa padronização em tempo recorde.
 
5. Por que a descoberta do sequenciamento do coronavírus é tão importante?
 
Para o desenvolvimento de vacinas e drogas para tratamento é fundamental saber qual é a real diversidade do patógeno. Por exemplo, o HIV sofre mutações no seu genoma muito facilmente, o que dificulta não somente o desenvolvimento de uma vacina (outros fatores também estão envolvidos na dificuldade em produzir uma vacina para o HIV) mas também a drogas eficientes. Não é incomum pacientes com HIV desenvolverem “resistência” ao medicamento. Isso ocorre não porque o paciente ficou resistente, mas sim o vírus! Portanto, saber como o coronavirus se comporta em nível gnômico pode ajudar a desenvolver drogas eficientes. Além disso, através do genoma dos vírus é possível saber qual a rota de transmissão (por exemplo, se os vírus que chegaram aqui são provenientes da China, da Itália, da Alemanha) pois apos um vírus entrar numa determinada população, ele vai acumulando mutações, e aos poucos vai diferindo da população a qual ele saiu. Então comparando vírus de populações diferentes, podemos traçar sua rota de dispersão.
 
6. Como esta descoberta pode ajudar o Brasil e o mundo no combate ao coronavírus?
 
O conhecimento do genoma do vírus possibilita o desenvolvimento de vacinas e medicamentos que possam ser utilizados na prevenção e no tratamento desse vírus.
Além disso possibilita conhecer as rotas de transmissão desse vírus.
 
7. Quais são os próximos passos da pesquisa?
 
É necessário o monitoramento contínuo das eventuais alterações que esse vírus possa sofrer no sentido de compreender os rumos da epidemia. Além disso recursos financeiros deveriam ser destinados para o desenvolvimento dos processos acima mencionados: vacinas e medicamentos. O sequenciamento viral é apenas o início de um processo.
 
8. A sequência analisada no Brasil apresenta diferenças em relação ao genoma identificado em Wuhan, o epicentro da epidemia na China?
 
Sim, algumas, sendo, portanto, confirmado que o vírus não veio direto de lá para cá, mas sim, de países da Europa, que mostram sequencias genômicas mais semelhantes aos vírus daqui. Um deles era mais semelhante a vírus amostrados na Alemanha, e outro, na Inglaterra.
 
9. Esta descoberta ajuda de que forma o Sistema Público de Saúde do nosso país?
 
Como disse, anteriormente, no desenvolvimento dos processos acima mencionados: vacinas e medicamentos. O sequenciamento viral é apenas o início.
 
10. Vocês sabem dizer se o vírus reage de forma diferente com nosso clima?
 
De forma geral os vírus que causam doenças respiratórias se transmitem mais eficientemente no inverno. As aglomerações e maior possibilidade de contágio nessa época do ano, sem dúvida, favorecem a disseminação desses agentes.
Não há dados específicos relativos a esse vírus em climas tropicais. Possivelmente deverá se comportar como os demais agentes de transmissão respiratória.
 
Fonte: Blog da Saúde
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