Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 Login
Estima-se acima de 230 propostas vacinais em desenvolvimento, oito em fase avançada e já disponíveis para uso sob liberação emergencial
Foto: Divulgação
Em uma corrida contra o tempo, a ciência luta contra a pandemia da Covid-19, síndrome associada ao coronavírus SARS-CoV-2 com altas taxas de morbidade e mortalidade. Os longos avanços em estudos prévios em biologia molecular, tecnologia de vacinas e estudos imunológicos permitiram e condicionaram o marco histórico de desenvolvimento rápido de vacinas e início de ensaios clínicos em suas diferentes fases em período menor que 12 meses. Desde o surgimento dos primeiros casos, vimos já em dezembro de 2020 o início da campanha vacinal em diferentes países do mundo. Mesmo frente a briga política, questionamentos, “achismos”, epidemiologia de mídias sociais e teorias da conspiração, estamos finalmente diante de uma concreta possível solução para controle da pandemia da Covid-19.
Estima-se que temos acima de 230 propostas vacinais em desenvolvimento, mas 8 candidatos vacinais se apresentam em fase avançada de estudos e já disponíveis para uso sob liberação emergencial. Os diferentes aspectos da partícula viral de SARS-CoV-2, da resposta imune ao vírus, e os desafios das estratégias vacinais já foram apresentados em publicação anterior do nosso portal. Trazemos aqui as atualizações sobre as vacinas anti-SARS-CoV-2 disponíveis e progressivamente em uso em diferentes países.
O longo e tradicional processo de desenvolvimento de uma vacina dura em torno de 10 a 15 anos, com 5 anos sendo considerado um período curto, como obtido anteriormente para a vacina contra a caxumba. Frente a Covid-19, foi necessário encurtar ainda mais esse período e todos os avanços biotecnológicos em todos esses anos condicionaram o desenvolvimento acelerado das propostas vacinais que temos disponíveis hoje.
Para melhor esclarecimento, as fases de desenvolvimento de vacinas estão descritas resumidamente abaixo:
Após a conclusão dos ensaios clínicos em humanos e determinação da segurança e eficácia clínica, a proposta vacinal passa para etapas adicionais como:
Diversas propostas vacinais têm sido desenvolvidas para combater a síndrome Covid-19. Essas incluem estratégias através do uso de RNA, DNA, vetores virais não replicativos e vacinas inativadas. Curiosamente nenhuma vacina baseada em RNA e DNA foi desenvolvida, aprovada e licenciada para uso em seres humanos até o ano de 2019, porém, tais estratégias oferecem vantagens como a ausência de necessidade de técnicas de biorreatores com culturas que seriam necessárias, por exemplo, para as vacinas inativadas. Tal fato permite maior velocidade na produção laboratorial já que são baseadas em sequências gênicas viral e permite um processo rápido de desenvolvimento e distribuição. Também são capazes de gerar resposta imune consistente. Por outro lado, as vacinas com vetores virais não replicativos podem ser fabricadas em larga escala e têm apresentado segurança e efetividade imunológica. Com as vacinas inativadas, em contraste, temos exemplos anteriores para outros patógenos já licenciados, mas não geram reposta imune robusta, a menos que usados em repetidas doses e associados a adjuvantes.
As 8 vacinas atualmente em fase 3 ou etapas seguintes, disponíveis e/ou em uso em alguns países incluem os seguintes componentes e seus respectivos fabricantes (desenvolvedores):
Apesar da precoce divulgação dos resultados de eficácia da primeira vacina contra a Covid-19 pelo governo russo em agosto de 2020, essa vacina baseada em vetor viral, denominada Gam-Covid-Vac-Lyo (ou Sputnik V) desenvolvida pelo Gamaleya Research Institute of Epidemiology and Microbiology, ainda estava em fase 2 no período da divulgação. Estima-se que atualmente essa vacina esteja em estudo de fase 3 que incluirá 40.000 voluntários e encerrará em maio de 2021. As outras vacinas citadas também estão em um cenário de fase 3 com revisão, aprovação, fabricação e vigilância em caráter emergencial.
Adicionalmente, é importante lembrar que existem dezenas de outras propostas e fabricantes para componentes vacinais citados acima ainda em estudo, assim como plataformas contendo vacinas com vírus atenuado, vetor viral replicante, partículas semelhantes ao vírus (VLPs), subunidade proteica viral, recombinações diversas (como com a vacina BCG), diferentes rotas de administração (intranasal, oral, intravenosa, intradérmica).
Com o desenvolvimento e andamento dos ensaios clínicos, algumas novas questões surgem quanto a eficácia vacinal, resposta efetiva aos novos variantes de coronavírus e muitas outras dúvidas. Considera-se que a eficácia mínima necessária para uma vacina deve ser ≥ 70%. E mesmo que verifique-se uma proposta vacinal com eficácia menor do que esse valor, considera-se que esta pode ainda ter efeito potencializado e contribuir para a eliminação do vírus na vigência de medidas de controle como distanciamento social, uso de máscaras e outros. Teme-se ainda a ocorrência da resposta do tipo antibody-dependent enhancement como ocorre para outras doença como dengue, e outras coronaviroses como MERS-CoV e SARS-CoV. Tal resposta decorre quando anticorpos se ligam ao vírus com consequente facilitação da entrada do completo vírus-anticorpo na célula o invés de neutralizar a entrada viral. Tal fenômeno é mais esperado frente as vacinas inativadas.
Maiores detalhes sobre o desenvolvimento das vacinas atuais podem ser obtidos nas referência abaixo.
Referências bibliográficas:
Autor(a): Rafael Duarte
M.D., PhD. ⦁ Médico ⦁ Microbiólogo ⦁ Professor Associado / Lab. Micobactérias, Depto. Microbiologia Médica, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Fonte: PEBMED
COMUNICAÇÃO PARA A SAÚDE
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