Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 Login
Mulheres grávidas com Covid-19 têm 1,5 vezes mais risco de internação em UTI, mas não têm risco de morte aumentado
Foto: Divulgação
Durante as crises de saúde pública do vírus da Zika, H1N1, houve muito debate sobre recomendar ou não que as mulheres evitassem uma gravidez devido aos riscos potenciais para elas mesmas e seus recém-nascidos, a pandemia de Covid-19 novamente traz este debate.
Experiência passada
Durante o surto da Zika em 2016 e 2017, o Center of Desease Control and Prevention (CDC) recomendou que os médicos discutissem com as pacientes os riscos de infecção pelo vírus Zika durante a gravidez e profilaxia da transmissão e que questionasse sobre seus planos de vida reprodutiva, em vez de recomendar adiar a gravidez. Para apoiar melhor as mulheres que queriam postergar engravidar durante o surto, o CDC investiu no acesso à contracepção.
Risco com a Covid-19
Até o momento, as evidências são escassas em relação a repercussão da Covid-19 na gestação. Os estudos mostram que mulheres grávidas com Covid-19 têm 1,5 vezes mais risco de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) e 1,7 vezes mais risco de evoluir com ventilação mecânica em relação às pacientes não gestantes na mesma faixa etária com Covid-19. Porém, mulheres grávidas não apresentam risco aumentado de morte. A transmissibilidade para o feto parece ser rara, e nenhuma evidência até o momento sugeriu uma associação entre Covid-19 na gravidez e mal formações fetais. Porém, os dados sugerem um aumento de prematuridade e a admissão em uma UTI neonatal nos bebês nascidos de mulheres infectadas.
Entretanto, aconselhar a postergar a gestação pode incluir diversas questões éticas. O primeiro ponto está relacionado ao respeito pela autonomia reprodutiva, já que esta se relaciona intimamente com a autodeterminação, segurança pessoal e curso de vida de uma pessoa. Outra questão é o potencial de segregação e discriminação. Mesmo políticas objetivando serem neutras podem se traduzir em experiências diferenciadas de acordo com classe social e grupo étnico. O conselho público que desestimula a gravidez transfere indiretamente a responsabilidade pelos resultados da gravidez para os pais. O último ponto diz respeito aos interesses das pessoas com deficiência. Existe uma diferença moral entre prevenir doenças e prevenir o nascimento de uma criança com deficiência.
No último mês, o New England Journal of Medicine publicou uma matéria sobre o tema, e considerou que antes que as grandes agências de saúde pública posicionem suas recomendações para evitar a gravidez durante a pandemia, vários critérios devem ser atendidos. O primeiro deles seria a maior compreensão dos riscos relacionados à gravidez, que hoje ainda são limitados. O segundo ponto seria avaliar se esses riscos são altos, acima dos riscos associados a outras condições comuns entre gestantes.
Um exemplo clássico seria a diabetes, já que o risco de malformações congênitas é duas a quatro vezes maior entre bebês nascidos de mulheres com diabetes pré-gestacional do que entre bebês nascidos de mulheres sem diabetes, bem como um risco aumentado de aborto espontâneo, prematuridade, restrição de crescimento, mortalidade perinatal e macrossomia, e mulheres grávidas com diabetes estão sob risco de infarto agudo do miocárdio, progressão da retinopatia, nefropatia e cetoacidose diabética. Porém, apesar de todos esses riscos, muitas mulheres diabéticas optam por engravidar. Além disso, a recomendação de evitar gravidez exigiria políticas públicas facilitadoras ao acesso de métodos anticoncepcionais.
Conclusão
Portanto, tendo em vista essas questões éticas, é necessária uma forte justificativa para qualquer conselho de saúde pública se posicionar a favor do adiamento da gestação. No caso de algumas emergências, por exemplo, exposição radioativa contínua, os critérios expostos acima são contemplados, mas no caso, a Covid-19 parece não atender esses requisitos.
O papel do médico especialista nesse momento é de fornecer informações e apoio às mulheres em relação às suas decisões de prosseguir ou adiar a gravidez, muito mais de forma individualizada. Não há, portanto, respaldo na literatura atualmente para desaconselhar de forma genérica os planos de engravidar.
Autora: Juliana Olivieri - Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ⦁ Ginecologista e Obstetra ⦁ Pós-graduada em Endocrinologia Feminina e Climatério pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira(IFF/Fiocruz)
Fonte: PEBMED
COMUNICAÇÃO PARA A SAÚDE
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