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Reality show coloca a Síndrome de Tourette em pauta. Entenda o problema

Publicado em 03/02/2023 às 14:27 por Editoria Movimento Saúde

Tossir, fungar ou limpar a garganta são tiques vocais típicos da Síndrome de Tourette, doença que tem despertado a atenção das pessoas por acometer o lutador Antonio Carlos, o Cara de Sapato, participante do Big Brother Brasil 23, Reality show exibido pela rede Globo. O brother contou aos colegas, durante uma conversa, que convive com o problema desde os sete anos, quando foi diagnosticado.

Conforme explica médico e cientista Drauzio Varela, os diferentes tiques variam no decorrer de uma semana ou de um mês para outro e não estão ligados necessariamente a questões emocionais.  “Em geral, esses tiques ocorrem em ondas, com frequência e intensidade variáveis, pioram com o estresse, são independentes dos problemas emocionais e podem estar associados a sintomas obsessivo-compulsivos (TOC), ao distúrbio de atenção com hiperatividade (TDAH) e a transtornos de aprendizagem.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença é rara e atinge 1% da população.

Sintomas

A Síndrome de Tourette é um distúrbio do sistema nervoso, cuja causa  ainda é desconhecida. Dr. Drauzio ressalta que em 80% dos casos, os tiques motores são a manifestação inicial da síndrome. Eles incluem piscar, franzir a testa, contrair os músculos da face, balançar a cabeça, contrair em trancos os músculos abdominais ou outros grupos musculares, além de movimentos mais complexos que parecem propositais, como tocar ou bater em objetos próximos.

Com o passar do tempo e o desenvolvimento cognitivo, os tiques podem evoluir para a emissão parcial ou completa de palavras. Embora sejam menos frequentes, os sintomas que tornaram a síndrome mais conhecida são os que envolvem o uso involuntário de palavras (coprolalia) e gestos obscenos (copropraxia),  formulação de insultos, a repetição de um som, palavra ou frase dita por outra pessoa (ecolalia). “Esses sintomas provocam alto nível de estresse aos pacientes, e o sofrimento e frustração que eles experimentam é visível”, analise o médico.

Gatilhos

Os efeitos da Síndrome de Tourette podem causar desconforto em meios sociais, e provocar sentimentos de fobia social e irritabilidade.

A vida no confinamento é marcada por momentos de tensão, ansiedade e estresse, fatores que tendem aumentar os sintomas da síndrome, funcionando como gatilhos para as crises.

No entanto, no caso do participante do reality, por ser adulto, mesmo que esteja sendo visto por muita gente, ele não está vendo essas pessoas o observarem. E a vida dentro da casa, embora vigiada, ganha um certo ar de normalidade, não causando o disparo do gatilho.

Diagnóstico

O diagnóstico da síndrome de Tourette é essencialmente clínico, feito por um neuropediatra ou psiquiatra especializado, e deve obedecer aos seguintes critérios:

  • Tiques motores múltiplos e um ou mais tiques vocais devem manifestar-se durante algum tempo, mas não necessariamente ao mesmo tempo;
  • Os tiques devem ocorrer diversas vezes por dia, quase todos os dias ou intermitentemente por um período de pelo menos três meses consecutivos;
  • O quadro deve começar antes dos 18 anos de idade.

Tratamento

 A síndrome de Tourette é não tem cura, mas pode ser controlada. Estudos clínicos têm demonstrado a utilidade de uma forma de terapia comportamental cognitiva, conhecida como tratamento de reversão de hábitos. Ela se baseia no treinamento dos pacientes para que monitorem as sensações premonitórias e os tiques, com a finalidade de responder a eles com uma reação voluntária fisicamente incompatível com o tique. É importante ressaltar, entretanto, que a eficácia depende de cada caso.

Medicamentos antipsicóticos têm se mostrado úteis na redução da intensidade dos tiques, quando sua repetição se reverte em prejuízo para a autoestima e aceitação social.

Em alguns casos de tiques bem localizados, podem ser tentadas aplicações locais de toxina botulínica (botox) e, excepcionalmente, pode ser indicado o tratamento cirúrgico com estimulação cerebral profunda, aplicada em certas áreas do cérebro.

Atividades como meditação e ioga podem aliviar o estresse. Esportes, de maneira geral, também podem ajudar, já que sua prática promove o relaxamento e também demanda atenção.

Recomendações

Ao perceber que a criança ou adolescente apresente alguma forma de movimentos involuntários, a orientação é procure ajuda médica. E atentar-se para as dicas:

  • Especialmente nas fases iniciais da vida, os portadores precisam de tratamento, e não de repreensão;
  • O tratamento precoce é fundamental para obter melhores resultados e permitir uma vida escolar normal;
  • Informar a classe sobre o caráter incontrolável do tique e promover a tolerância é o melhor caminho, evitando risos nas ocorrências dos espasmos, que podem constranger a criança;
  • Professores devem evitar expor a criança a situações em que tenha de responder perguntas em voz alta na sala, pois os tiques são mais facilmente disparados nessas situações;
  • Conscientizar pais e pessoas que convivem com a criança sobre o fato de que os tiques são involuntários é um grande passo para melhorar o cotidiano do paciente.  

Fotos: divulgação

 

 

 

 

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