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Com as mais diversas trajetórias, seis mulheres contam sobre as dificuldades e as gratificações de atuar na saúde pública do país.
Foto: Divulgação
Ação Dia da Mulher 2019 Com as mais diversas trajetórias, seis mulheres contam sobre as dificuldades e as gratificações de atuar na saúde pública do país.
No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, conhecemos as histórias de seis trabalhadoras do Sistema Único de Saúde (SUS). Elas têm diferentes sotaques e trajetórias, conhecem bem as dificuldades de promover a saúde pública e compartilham do mesmo desejo de prestar a melhor assistência e se alegrar com cada paciente que ajudam.
Com comprometimento, dedicação e responsabilidade, elas sabem que podem fazer a diferença no sistema de saúde brasileiro, seja atuando na formação de outros profissionais, na parte administrativa ou no atendimento direto ao público. Conheça!
“Bem estar do paciente”
Luciana Anastácio de Oliveira é natural de Natal (RN), mas mora na capital do estado vizinho, João Pessoa (PB). Com 43 anos de idade e um filho de 11 anos, ela atua na área da saúde há 19 anos.
A primeira formação na área foi motivada por uma história que a emociona até hoje. Aos 16 anos, Luciana visitou um hospital para pacientes com câncer, na capital do estado “Durante essa visita, eu entrei numa enfermaria e tinha uma senhora com câncer de mama. Ela segurou minha mão e disse que eu poderia fazer muito pelos pacientes. Aquilo me tocou. Eu precisava fazer alguma coisa que ajudasse os pacientes do SUS. Foi quando eu decidi fazer o técnico de enfermagem para ver se era realmente isso que eu queria. Fiz o curso técnico e, posteriormente, o curso superior e hoje trabalho com os pacientes do SUS”, relata.
Com especialização em urgência e emergência, a enfermeira atua como plantonista em um hospital e é coordenadora de um centro especializado em câncer. Entre os motivos que faz o dia a dia atribulado valer a pena está a possibilidade de promover o bem-estar do paciente, mesmo com todas as dificuldades. “Quando eu faço algo para o paciente, eu fico imaginando alguém da minha família, e faço da mesma forma que gostaria que fizessem comigo. Eu atuo na enfermagem por amor”, relata Luciana sobre o olhar que a enfermagem proporciona ao atendimento.
Comprometida com o trabalho e com a educação do filho, Luciana afirma que conciliar as rotinas não é fácil, “São muitas dificuldades. Primeiro porque eu trabalho em dois empregos, tenho um filho de 11 anos e cuido de tudo. Eu pego, levo todos os dias para o colégio, ensino tarefa, cuido da casa. Não tenho empregada, me triplico, mas faço tudo com prazer. Sou feliz”, conclui.
“A medicina é tudo para mim”
A médica Eloides Araújo Gomes tem 37 anos e nasceu no interior de Roraima. Filha de agricultores, ela ainda se lembra quando viu, aos 4 anos de idade, seu tio, técnico em enfermagem, realizando um atendimento. Ali decidiu que queria ser médica. No entanto, cresceu acreditando que não era para ela. “Meus pais diziam que eles não tinham condições de bancar uma faculdade de medicina, que era um sonho impossível”, relata.
Aos 15 anos, a família se mudou para Pacaraima, município de Roraima. Lá, Eloides teve o primeiro emprego como agente de saúde, depois como vacinadora e, só então, fez o curso de técnica em enfermagem. Aos 22 anos, surgiu a oportunidade de estudar medicina fora do país. Ela então se formou na Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV). As dificuldades do estudo começaram na barreira da língua estrangeira e no fato de ser a única mulher negra da sala. Mas, para Eloides, as barreiras fizeram com que se dedicasse ainda mais e se tornasse uma mulher mais forte.
“Hoje, eu vejo que não poderia ser diferente porque eu amo o que eu faço. A medicina para mim é tudo”, conta. Na realização do sonho profissional veio também o amor. Durante a faculdade conheceu seu marido, com quem teve uma filha, de dois anos. “Minha filha reclama da minha ausência porque trabalho muito e o pai também está frequentemente ausente porque também é médico e atua em área indígena, o que o obriga a passar 15 dias fora de casa. Mas eu sempre converso com ela que tudo é feito para o nosso futuro”, ressalta Eloides.
A roraimense também já trabalhou nas áreas indígenas do estado e se diz realizada em poder atuar na Atenção Básica. No momento, a situação enfrentada no país vizinho vem impactando a rotina de trabalho de Eloides. O número de atendimentos aumentou, o que traz o desafio de se desdobrar para atender a todos, “Se antes atendíamos 40 pacientes por dia, agora a gente atende 60, fora as emergências, porque na cidade só tem um hospital”.
Ação Dia da Mulher 2019 - Luciana Ezara Roberta“Ajudar os pacientes é gratificante”
A cearense Ézara da Silva David saiu, aos 15 anos, da pequena cidade onde morava e se mudou para a Paraíba, com o objetivo de estudar.
O sonho de ser médica começou ainda na infância e foi o motivo da mudança de endereço, que teve como foco os estudos e o preparo para o concorrido vestibular. Em 2014, o sonho foi concretizado com a formatura médica e, na sequência, a pós-graduação em Medicina do Trabalho e Especialização em Saúde da família pelo Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab).
Atualmente, aos 28 anos, a médica trabalha na estratégia da saúde da família de Alagoa Grande (PB) e também atua no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da mesma cidade.
Morando no interior da Paraíba, Ézara precisa se dividir entre o trabalho e a família que mora no Ceará. Apesar das dificuldades pessoais e profissionais, ajudar diariamente os pacientes é gratificante. “Na estratégia da saúde da família, além de médico, eu costumo dizer que a gente é psicólogo também. Às vezes o paciente não tem doença alguma, ele só quer conversar, desabafar com alguém”. Um dos casos que a médica lembra emocionada é de uma técnica de enfermagem desempregada e com três filhos que estava num quadro depressivo e hoje, depois do encaminhamento e tratamento, a paciente está bem.
“Seria muito importante que todos os profissionais tivessem contato com a saúde pública para conhecer a realidade, saber o que precisa melhorar, ter o contato com a população mais carente. Eu acho que todos os profissionais deveriam sentir na pele como é trabalhar no SUS. Muitos profissionais se formam, vão para as residências e depois só trabalham nos consultórios. Eles não têm o contato direto com a realidade, com as dificuldades que a gente enfrenta”, destacou a médica sobre a experiência em atuar no SUS.
“As pessoas precisam do suporte”
A gaúcha Roberta Matias Dickel reside em Brasília há 35 anos. Casada e mãe de duas crianças, a fisioterapia foi a área escolhida para atuar, após a indecisão de qual carreira escolher.
“Deu certo, porque me apaixonei pela profissão e já atuo há 15 anos na área. Nunca parei de atender, mesmo agora, continuo com atendimento domiciliar. Sempre trabalhei na área neurológica, atendo pacientes da terceira idade portadores de Alzheimer e Parkinson”, conta Roberta que hoje também atua na Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), do Ministério da Saúde.
Em 2007, nasceu a primeira filha, Catarina, que com apenas seis meses de vida foi diagnosticada com leucemia, vindo à óbito com um ano e sete meses. A situação abalou a certeza da atuação profissional e Roberta chegou a acreditar que não trabalharia mais na área. “Todo o processo com a Catarina foi muito cansativo, vivi todo esse tempo de hospital em hospital”.
Após três meses, ela foi convidada para trabalhar em um Núcleo de Apoio na Saúde da Família (NASF), atendendo pacientes da zona rural. A experiência fez Roberta redescobrir a sua atuação na área, constatando que a atuação havia sido transformada após o falecimento de Catarina. “Passei a enxergar as pessoas de uma forma mais profunda. Até então, eu tinha uma visão muito acadêmica da forma de tratar o paciente. Depois você descobre que não é bem assim, que cada caso é um caso e que, muitas vezes, o apoio que você dá à família do paciente é a melhor forma de conduzir o tratamento. Eu senti muito isso quando estava do outro lado, acompanhando a minha filha. As pessoas precisam do suporte”.
Hoje atuando no Ministério da Saúde, a gaúcha ganhou outra perspectiva do trabalho na área da saúde. “Agora eu vivo na prática o apoio que eu recebia quando atuava na cidadezinha que eu trabalhava. Vejo como funciona todo o processo. Quando a gente trabalha na ponta, não temos a noção da quantidade de pessoas que trabalham para que aquelas pessoas estejam nessas localidades”.
Ação Dia da Mulher 2019 - Fatima Luana Eloides“O ser humano é integral”
Luana Deva Mendes tem 38 anos e é natural de Belo Horizonte (MG). Casada, com dois filhos, a fonoaudióloga atua na saúde auditiva, sendo também intérprete de libras e brailista.
Escoteira desde criança, foi no escotismo que Luana descobriu o interesse pela área da saúde. No primeiro momento achou que seria enfermagem, mas a rotina de plantões era algo que a preocupava. Quando descobriu a fonoaudiologia e os campos de atuação que a área permite, ela encontrou o seu caminho.
Em 2011, começou a atuar como referência técnica na secretaria estadual de saúde do estado, o trabalho foi um marco na trajetória de Luana. “Foram três anos maravilhosos, que embasaram muito a minha carreira, o meu conhecimento na área da saúde, na área do SUS.”
A mineira é especialista em audição e trabalha num centro de reabilitação auditiva, sendo da área bilíngue. “Atendo aos deficientes auditivos que tiveram pouco sucesso com o português. Com a oralização, a gente introduz um pouquinho de libras na minha terapia fonoaudiológica e eu acabo proporcionando um pouco de comunicação mais efetiva entre a criança ou adulto que não tinha essa comunicação em casa”.
Luana lembra com carinho de dois pacientes. Um deles, aos oitos anos de idade, estava sem o dispositivo eletrônico e ainda não alfabetizado, todo o trabalho foi focado em libras e leitura orofacial; já o outro caso foi um paciente de 14 anos, com dificuldades de comunicação com a família, onde a terapia foi focada na leitura labial e na proposição de ferramentas de comunicação.
“Sinto orgulho de estar atuando na saúde pública, principalmente por conta dessa divergência tão grande de pessoas e a gente acolhendo. O ser humano é um todo, ele não é só ouvido, só garganta, só boca, ou só cabeça e pescoço. O ser humano é integral”, destacou a mineira que hoje se sente realizada com o trabalho e a vida pessoal.
“Trabalhar com saúde é trabalhar com seres humanos”
Natural do Rio de Janeiro (RJ), Fátima Haque, de 50 anos, mora em João Pessoa (PB) há 21 anos. Formada em pedagogia e enfermagem, a carioca sempre gostou da área da saúde, mas a trajetória profissional demorou para acontecer.
Casada e com dois filhos, ela conta que o primogênito nasceu quando ela tinha 14 anos e os estudos foram impactados. “Para estudar foi muito complicado. Eu me formei só em 2013. Quando eu comecei a trabalhar eu já tinha uma certa idade, a dificuldade foi grande para tentar me adaptar ao novo, mas foi muito gratificante também”, registrou Fátima.
A primeira graduação foi em pedagogia e só depois o sonho de atuar na área da saúde se concretizou, com a formação em enfermagem. Depois de trabalhar como enfermeira em um hospital pediátrico, como coordenadora de urgência e emergência e como gerente de enfermagem, atualmente, Fátima atua como Assessora Pedagógica de um centro de formação em saúde, atendendo as demandas dos profissionais e ofertando cursos de capacitação e aperfeiçoamento, numa oportunidade que une os conhecimentos das suas duas graduações.
Apaixonada pela área da saúde, com especialização em unidade terapia intensiva e também gestão do trabalho e educação em saúde, Fátima conta que sua atuação no cotidiano de atendimentos contribui para transmitir o compromisso e as dificuldades de se atuar com a saúde, “O bom é que posso trazer, mostrar um pouco da minha vivência, e mostrar realmente que trabalhar com saúde é trabalhar com seres humanos, é uma responsabilidade muito grande, são vidas que dependem de você. A responsabilidade de cuidar, de olhar para o próximo como ser humano e saber que ele precisa de uma assistência integral. Eu sou apaixonada pela área da saúde na questão de cuidar, eu me encanto, eu gosto muito de poder ajudar”.
Fonte: Blog da Saúde