Sexta-feira, 13 de junho de 2025 Login
No Dia dos Namorados, as redes sociais se transformam em vitrines de afeto. Fotos apaixonadas, declarações públicas, vídeos com trilhas sonoras cuidadosamente escolhidas. Para muitos casais, essa exposição representa uma celebração do amor. Para outros, um incômodo — ou até mesmo um gatilho. Afinal, postar ou não postar foto de casal nessa data comemorativa é apenas uma escolha estética ou revela aspectos mais profundos da dinâmica relacional e da forma como vivemos o amor na sociedade contemporânea?
Como psicóloga e psicanalista, observo há anos os efeitos da exposição — e da não exposição — da intimidade conjugal. O modo como casais lidam com essa decisão diz muito sobre suas expectativas, inseguranças e até mesmo sobre o modelo de relacionamento que desejam construir.
Vivemos em uma era em que o reconhecimento público parece legitimar experiências privadas. A lógica é simples e cruel: se não foi postado, aconteceu mesmo? No campo amoroso, isso pode gerar uma espécie de “ansiedade de validação”: a necessidade de demonstrar ao mundo que o relacionamento vai bem, que há amor, cumplicidade, momentos felizes. O problema é quando essa validação externa se sobrepõe à vivência interna do casal.
Alguns casais, por exemplo, publicam fotos românticas enquanto vivem conflitos silenciosos, numa tentativa inconsciente de negar ou camuflar a crise. Outros evitam a exposição por motivos opostos: resguardam a relação da opinião pública e do julgamento alheio. Ambos os comportamentos, em si, não são bons nem ruins — o ponto crucial é por que e para quem se faz ou se evita essa postagem.
Ao longo do tempo, a ideia de intimidade vem se confundindo com privacidade. A intimidade verdadeira não está no segredo, mas na profundidade da conexão. Casais maduros emocionalmente não temem mostrar afeto em público, mas também não dependem disso. A decisão de postar (ou não) deve nascer do desejo genuíno de compartilhar, e não da pressão social ou do medo de parecer “menos feliz” do que os demais.
O Dia dos Namorados, nas redes sociais, também escancara a comparação. Pessoas solteiras podem se sentir desamparadas diante da avalanche de casais aparentemente perfeitos. Casais em crise podem sentir-se diminuídos por não corresponderem ao ideal romântico propagado digitalmente. A postagem de uma foto, portanto, não é inocente: ela impacta não apenas quem posta, mas também quem vê. E, mais importante, afeta a própria percepção do casal sobre si mesmo.
Postar ou não postar uma foto no Dia dos Namorados deve ser uma escolha livre, consciente e conversada. Há casais que se sentem plenos ao celebrar seu vínculo nas redes — e tudo bem. Há outros que preferem preservar esse espaço como algo sagrado e silencioso — e também está tudo bem. O que deve ser evitado é a atitude automática, reativa, baseada no medo de julgamento ou na necessidade de aceitação.
Casais saudáveis são aqueles que conseguem conversar abertamente sobre seus limites e desejos. Que compreendem que a relação não se define por cliques, curtidas ou comentários. Que sabem que o mais importante é aquilo que se vive no cotidiano, e não o que se compartilha virtualmente.
Postar uma foto de casal no Dia dos Namorados pode ser uma linda forma de expressão — desde que não se transforme em uma obrigação ou em um disfarce. O amor não precisa ser provado publicamente para ser verdadeiro. E a intimidade, quando respeitada e cuidada, floresce muito mais nos gestos privados do que nas postagens públicas.
Neste 12 de junho, antes de abrir o aplicativo, abra o coração. Converse com quem você ama. Olhe nos olhos. Escolha o gesto que mais combina com a verdade de vocês — seja ele silencioso ou compartilhado. Porque o que vale, no fim, não é a foto: é o sentimento que ela revela ou esconde.
Com a contribuição da Dra. Ana Z. A. Camargo - Psicóloga, Psicanalista, Doutora em Comportamento Humano