Sábado, 23 de novembro de 2024 Login
Thaynara e Sofia foram diagnosticas a tempo e hoje levam uma vida normal. Foram curadas do retinoblastoma
A recente revelação do diagnóstico de retinoblastoma da pequena Lua, de apenas um ano de idade, filha dos jornalistas Tiago Leifert e Daiana Garbin, acendeu um alerta sobre esse tipo de câncer infantil. Não há uma forma conhecida de prevenção para a doença, que ocorre de forma aleatória na maioria dos casos. O diagnóstico precoce é a melhor forma para lutar contra ela.
O retinoblastoma é considerado raro, mas é o tumor ocular maligno mais comum entre as crianças: cerca de 4% de todos os casos de câncer infantil no mundo. No Brasil, são cerca de 400 novos casos por ano.
A estudante de Biomedicina, Thaynara Vitória Barbosa Rodrigues, de Maringá (PR), hoje com 20 anos, faz parte dessa estatística. Ela foi diagnosticada com retinoblastoma aos três anos de idade. A mãe, Claudia Barbosa, notou uma sombra estranha no olho da filha em uma fotografia (olho de gato) e levou a criança ao oftalmologista.
Foi mais de um ano de tratamentos indo e voltado ao Hospital Pequeno Príncipe de Curitiba, com quimioterapias e muitos exames. Contudo, aos quatro anos, o olho esquerdo de Thaynara teve que ser retirado. Foram momentos difíceis, mas a jovem disse que valeu a pena. Seu desenvolvimento foi normal e hoje ela ajuda a esclarecer outras pessoas sobre a doença.
“Peço aos pais que que façam o acompanhamento. Não somente quando a criança acaba de nascer, mas mais para frente também. Sempre vá ao oftalmologista, para ver se está tudo certo com o olhinho da criança, que é uma parte essencial do desenvolvimento”, aconselha a jovem. Ela também pede que os responsáveis prestem atenção nas fotografias das crianças. “Foi por causa de uma foto que o meu problema foi diagnosticado e eu pude ser tratada a tempo”, conta a estudante.
Assista o depoimento completo da Thaynara
O olhar atento dos pais pode fazer toda a diferença
Observar o comportamento das crianças também é importante para diagnosticar o câncer de olho. O funcionário público Cristiano Ricardo Hrala Araujo e a professora Thalita Cristina Conchon, de Umuarama (PR) entendem bem a importância de não negligenciar alguns sinais. Eles são pais da linda Sofia, hoje com 12 anos.
Quando a menina tinha três anos, o pai notou que ela começou a ficar “vesguinha”. Intrigados, Cristiano e Thalita levaram a filha ao oftalmologista e, depois de alguns exames complementares veio o diagnóstico de retinoblastoma. “Foi um baque para nós. Câncer é uma palavra muito forte, ainda mais para uma criança”.
Foi Cristiano que acompanhou a filha durante todo o tratamento, realizado em sua maioria no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba. Thalita estava grávida de 8 meses de Thor, o segundo filho do casal.
Sofia também teve que remover (enucleação) o olhinho esquerdo aos quatro anos de idade. Apesar dos tratamentos, surgiram “sementes vítreas”, que é quando o tumor está se proliferando para outras partes do olho, correndo o risco de afetar o cérebro da criança.
“A vida da Sofia foi o mais importante e hoje ela tem uma rotina completamente normal, estuda e faz todas as atividades dos outros adolescentes da mesma idade. Nossa orientação aos pais é que prestem atenção nas crianças e ao menor sinal de alteração, procure um especialista imediatamente, não deixe para depois”, destaca o pai.
Assista o depoimento completo
DIAGNÓSTICOS CADA VEZ MAIS PRECOCES
Diferente de Thaynara e Sofia, o câncer de Lua foi descoberto logo após o primeiro ano de vida. A menina tem retinoblastoma bilateral, que é quando a doença afeta os dois olhos. “Quanto antes a doença for diagnosticada, maiores as chances de sucesso dos tratamentos disponíveis”, diz o médico oftalmologista, Dr. Paulo Igor Rauen (CRM 22859 RQE 720), que é especialista em retina.
O médico atua na triagem e tratamento de Retinopatia de Prematuridade na UTI Neonatal dos Hospitais Norospar e Cemil, em Umuarama (PR). É médico do SUS e também atende em sua clínica própria. Segundo ele, o Exame do Reflexo Vermelho (teste do olhinho), que é realizado em toda criança ao nascer, não é suficiente para diagnosticar o retinoblastoma e outras doenças oftalmológicas infantis. Algumas podem apresentar os primeiros sinais, somente depois dos primeiros meses de vida.
“O ideal são pelo menos duas consultas com o oftalmologista no primeiro ano de vida e, a partir daí, pelo menos uma consulta por ano”, orienta o especialista. Nesse acompanhamento o médico faz o mapeamento da retina, através do exame de dilatação da pálpebra. “Se os exames clínicos apresentarem alterações, exames laboratoriais e de imagem são solicitados para complementar o diagnóstico”.
Existem vários tratamentos disponíveis atualmente, que vão desde a aplicação de laser, indicado para as fases mais iniciais, quimioterapia, diversos tipos de cirurgias e, em casos avançados, a enucleação - retirada do olho.
De acordo com o especialista, os tratamentos avançaram muito e os pais não devem ter medo do diagnóstico. “Não há como prever ou prevenir a ocorrência de retinoblastoma e a doença não está associada a intercorrências clínicas da gestação. Na maioria dos casos, (75%) ele ocorre de forma espontânea. Começam acorrer mitoses irregulares em uma célula da retina, que passa a crescer de forma desordenada, originando o câncer”, explica.
Os outros 25% dos casos a criança herda um defeito no gene conhecido como RB1 dos pais. De acordo com a literatura médica, esse gene produz a proteína pRb, que ajuda as células a desacelerarem seu crescimento. Segundo o especialista, “aproximadamente 90% das crianças que nascem com essa mutação genética do gene RB1 desenvolvem retinoblastoma. Os retinoblastomas bilaterais são considerados hereditários”.
CONSCIENTIZAÇÃO E ESCLARECIMENTO
Para o médico, conscientização e esclarecimento são fundamentais para o diagnóstico precoce do retinoblastoma e outras doenças oculares na infância.
“A importância de toda essa discussão é o esclarecimento das dúvidas dos pais e promover essa maior conscientização sobre a importância das consultas oftalmológicas na infância, especialmente no primeiro ano de vida”, reitera o Dr. Paulo Rauen.
O especialista parabenizou os jornalistas Tiago e Daiana, bem como as pacientes curadas Thaynara, Sofia e seus pais Ricardo e Thalita. “São atitudes corajosas assim que estão ajudando e vão ajudar muitas pessoas a se conscientizarem, a buscarem o diagnóstico precoce, minimizando assim as perdas e sofrimentos que um câncer de olho pode trazer”, finalizou.
Assista o depoimento do Dr. Paulo Igor