Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 Login
Pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 devem permanecer em isolamento domiciliar, bem como as pessoas com tiveram contato
Foto: Divulgação
Com o distanciamento social imposto pela pandemia por Covid-19, surgem novos desafios para a manutenção do acompanhamento de pacientes crônicos e para a atenção àqueles com queixas agudas. Em diversos locais ao redor do mundo, inclusive no Brasil, serviços ambulatoriais foram fechados ou tiveram seu funcionamento profundamente alterado e unidades de Atenção Primária passaram por mudanças importantes na organização de sua porta de entrada. Somando isso às orientações para que a população mantenha-se em casa, emerge um cenário ainda em construção no sentido de garantir atenção à saúde às pessoas que a necessitam por motivos além da Covid-19. A Atenção Domiciliar (AD), como atribuição das equipes de Atenção Primária, é uma estratégia que pode oferecer alternativas para o desenvolvimento de soluções. Nesse contexto, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) traz recomendações para a atuação da Atenção Domiciliar durante a pandemia, fornecendo orientações para diferentes cenários.
Pacientes que já possuíam critérios para receber cuidados domiciliares anteriormente à pandemia
Pacientes com doenças crônicas que possuem impossibilidade de comparecer às unidades não podem ter seu cuidado interrompido. Seu negligenciamento acarreta em agravamentos e descompensações, prejudicando a saúde do paciente e causando uma posterior sobrecarga do próprio serviço de saúde.
Sugere-se que as equipes elaborem uma lista desses pacientes, idealmente classificados quanto ao risco (critérios clínicos e de vulnerabilidade social), com endereço e contatos, inclusive do cuidador. Uma possibilidade é realizar a reavaliação de cada caso por atendimento remoto (teleconsulta). Devem contar para a definição de prioridades das visitas a capacidade para o autocuidado, o quadro clínico e sua estabilidade. Caso sejam necessárias, as visitas devem ocorrer com periodicidade definida pela equipe e apenas com a concordância da família, que pode optar por não recebê-las. Além disso, os profissionais devem ter acesso adequado aos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Pacientes com Covid-19 no domicílio
Pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 devem permanecer em isolamento domiciliar, bem como seus contactantes. Estratégias de atendimento à distância, como teleconsultas e orientações por telefone ou internet devem ser utilizadas juntamente com atividades de AD, de maneira complementar. Os objetivos do teleatendimento devem ser realizar orientações sobre a Covid-19; avaliar a evolução dos pacientes, identificando critérios de gravidade; e identificar as necessidades do paciente, atuando de acordo. Também é essencial a vigilância e a construção de listas de acompanhamento dos casos, com discussão e construção de plano de acompanhamento em equipe.
Em casos de necessidade de avaliação clínica, o atendimento domiciliar presencial pode ocorrer, desde que com EPI adequado e respeitando as orientações de segurança.
O estabelecimento de um canal de comunicação efetivo entre família e equipe é essencial, bem como a retaguarda de serviços de ambulância, como o SAMU, para o caso de necessidades de remoção.
Uma alternativa para manter o acompanhamento de pacientes de maior risco com doenças crônicas restritos ao domicílio pelo isolamento social é através das visitas domiciliares. Da mesma maneira que para aqueles que possuíam critério para cuidados domiciliares anteriormente à pandemia, a relação risco-benefício de um contato presencial por visita deve ser avaliada. Evitar que pacientes com agudizações procurem atendimentos em emergências ou hospitais pode ser estratégico por diminuir tanto seu risco de exposição a contágio, quanto a sobrecarga dos serviços, desde que seu manejo seja possível pela AD ou por estratégias de atendimento remoto.
Há também a orientação de se complementarem as ações de AD com essas atividades de atendimentos à distância, através de teleconsultas e de canais de comunicação direta entre as famílias e a equipe, via telefone ou internet.
As visitas dos ACS possuem bom potencial para o acompanhamento de pacientes crônicos, desde que capacitados para a utilização dos EPI e sobre as orientações de prevenção de contágio, para a própria proteção e para a dos pacientes.
Uma das maiores possibilidades de colaboração da Atenção Domiciliar para o momento de pandemia, tendo em vista os riscos de colapso do sistema de saúde, é o de agilizar altas e liberar leitos hospitalares de pessoas estabilizadas, para continuidade do tratamento em domicílio. Para isso, deve-se avaliar as condições de moradia e os cuidadores, identificando-se as potencialidades e vulnerabilidades, bem como a disponibilidade de acesso aos serviços de AD. O contato e a integração entre a equipe hospitalar e a Atenção Primária é essencial para se colocar essa estratégia em prática, de maneira a viabilizar uma transferência de cuidados ética e responsável. Mais uma vez, ressalta-se a importância e o valor estratégico que as teleconsultas podem possuir, dependendo do caso.
Os atendimentos domiciliares podem possibilitar a diminuição da distância entre pacientes e serviços de saúde durante a pandemia. Além de reduzir a exposição dos pacientes aos riscos de contágio, de facilitar as orientações de prevenção em nível familiar e de possibilitar o cuidado de pacientes com Covid-19, mantendo-os isolados, a Atenção Domiciliar pode contribuir na diminuição da sobrecarga do sistema, com liberação de leitos hospitalares, sua adequada aplicação pode, ainda, reduzir os impactos que se seguirão à pandemia, relacionados às descompensações de doenças crônicas, aos problemas de saúde negligenciados devido ao distanciamento social e às crescentes demandas relacionadas à saúde mental. É papel da Atenção Primária atuar de maneira integral, oferecendo cuidados a todas essas condições; antes, durante e após a pandemia; na unidade básica de saúde, na comunidade e no domicílio.
Autor(a): Renato Bergallo
Fonte: PEBMED