Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 Login
As crianças infectadas com o novo coronavírus geralmente apresentam um histórico de exposição familiar ou nas atividades escolares ou recreativas com outras crianças
Foto: Divulgação
As crianças infectadas com o novo coronavírus geralmente apresentam um histórico de exposição familiar ou nas atividades escolares ou recreativas com outras crianças, e transmissão por vias aéreas e trato gastrintestinal, assim como nos adultos.
A maioria dos infectados tem um curso assintomático e há descrição de inúmeros casos falso-negativos em testes moleculares nessa população. As que desenvolvem a Covid-19 clínica, apresentam febre e tosse, poucas apresentam alterações radiológicas significativas, e o prognóstico geralmente é favorável, em contraste com o curso da doença observado em neonatos.
Casos raros, como a descrição de uma nova síndrome inflamatória multissistêmica Kawasaki-like ainda suporta os cuidados necessários frente a doença nessa população. Por outro lado, devido ao carater assintomático a leve/moderado da Covid-19, as crianças consistem em potenciais transmissores da doença para familiares contactantes e outras crianças.
Dentre as diferentes hipóteses para a predominância de quadros leves da doença em crianças, alguns estudos sugerem que:
Transmissão em creches
Como exemplo da dinâmica de transmissão de SARS-CoV-2 a partir de creches, Lopes e cols. (2020) descreveram três surtos ocorridos no condado de Salt Lake, Utah, EUA entre abril a julho de 2020. Os 184 indivíduos, incluindo 110 (60%) crianças, tinham um link epidemiológico com uma das três creches, sendo que 31 apresentaram Covid-19 confirmado por testes moleculares.
Os pacientes pediátricos apresentaram formas assintomáticas ou leves, 12 crianças adquiriram a infecção por SARS-CoV-2 nas instituições. A transmissão pediátrica para adultos foi caracterizada em 12 (26%) dos contactantes não frequentadores da instituição (total de 46 confirmados ou prováveis). Seis desses casos ocorreram em pais e 3 em irmãos. Em uma das creches, uma criança de 8 meses transmitiu o vírus para ambos os pais.
A origem sugerida desses casos nas creches consiste em staff de duas creches que tiveram contato domiciliar com casos prováveis ou confirmados de Covid-19 sintomáticos e foram trabalhar, disseminando para as crianças, e seguindo a cadeia de transmissão. O condado de Salt Lake apresentou 17 creches com pelo menos 2 casos confirmados de COVID-19 no período estudado.
Posfay-Barbe e cols (2020) avaliaram os casos pediátricos de infecção por SARS-CoV-2 em pacientes < 16 anos no período de março a abril de 2020, registrados na rede de vigilância do Geneva University Hospital, Suíça, e seus contactantes. Dentre os 39 pacientes com a faixa etária citada positivos para SARS-CoV-2, verificou-se que em 79% (31/39) dos casos de doença infantil, os adultos contactantes (pais ou irmãos) eram casos suspeitos ou confirmados de COVID-19 previamente ao aparecimento dos sintomas nas crianças ou adolescentes. Em 8% dos casos (3/39), os pacientes pediátricos apresentaram sintomas anteriores aos adultos contactantes.
Na revisão apresentada por Lee & Raszka (2020), os autores defendem a hipótese de que o potencial transmissor de crianças para adultos é pequeno, com poucos casos extradomiciliares, sem evidência de casos secundários nos estudos citados. Sugere-se que devido ao quadro assintomático ou leve na população infantil, os quadros de tosse seriam menos frequentes, com menor disseminação de partículas aéreas.
Adicionalmente, Kuttiatt et al. (2020) relembram que o fechamento prolongado de instituições educacionais infantis reflete em efeitos negativos psicossociais para as crianças, além dos efeitos secundários e econômicos familiares. O desenvolvimento infantil não pode ser substituído definitivamente por plataformas virtuais de ensino ou por períodos longos, considerando especialmente devido à Covid-19 em crianças corresponder a menos de 2% dos casos totais na população.
Mediante tais controvérsias, os consensos internacionais, incluindo aqueles do Centers for Diseases Control and Prevention (CDC, Atlanta, EUA), mantém as recomendações sobre o uso de máscara, lavagem de mãos, limpeza e desinfecção frequente de superfícies, e isolamento em domicílio sempre que possível como adaptações importantes especialmente no manejo de crianças que não usam máscaras.
Os aspectos desses estudos podem ser observados nas referências abaixo.
Autor: Rafael Duarte
M.D., PhD. ⦁ Médico ⦁ Microbiólogo ⦁ Professor Associado / Lab. Micobactérias, Depto. Microbiologia Médica, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Referências bibliográficas: