Terça-feira, 26 de novembro de 2024 Login
A região de Umuarama ainda está comovida coma morte precoce da dona de casa Ivone Paes, de apenas 42 anos de idade, moradora do distrito de Santa Eliza, que faleceu na madrugada da última sexta-feira (15), em decorrência de complicações causadas pela obesidade. Ivone pesava cerca de 230 quilos e tinha indicação de cirurgia bariátrica, mas não chegou a ser submetida ao procedimento.
De acordo com o médico cirurgião bariátrico Dr. André K. L. Bacelar (CRM 24.167), “todo procedimento cirúrgico tem riscos. Porém, quando há indicação médica, o risco de permanecer obeso é muito maior do que o de passar pela cirurgia bariátrica”.
A cirurgia bariátrica deve ser o último recurso para quem luta contra a obesidade. “O cuidado clínico e a promoção da saúde são prioritários. Somente quando o paciente não responde ao tratamento e a obesidade compromete sua saúde e qualidade de vida, a cirurgia é indicada”, explica.
A obesidade e o excesso de peso estão sendo constantemente relacionados em estudos médicos ao aumento do risco de diabetes e pressão alta, doenças cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), cânceres, como o de mama na pós-menopausa, o de cólon e reto, de útero, da vesícula biliar, do rim, fígado, ovário, próstata, mieloma múltiplo (células plasmáticas da medula óssea), esôfago, pâncreas, estômago e tireóide, além de problemas na coluna e articulares gravíssimos, que podem comprometer definitivamente a mobilidade do paciente.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é calculada através do Índice de Massa Corpórea (IMC), obtido por meio da divisão do peso (quilogramas) pelo quadrado da altura (metros). Pessoas com lMC de 25 a 29,9 kg/m² foram classificados como acima do peso ideal ou sobrepeso, já que o ponto de corte para a definição de obesidade é lMC≥ 30 kg/m². Quando este índice é igual ou superior a 40 kg/m², a obesidade é denominada mórbida ou grave, o que corresponde aproximadamente a 45 kg acima do peso ideal. O termo super obeso é usado para designar os pacientes com lMC≥ 50 kg/m².
Atualmente o Ministério da Saúde oferece tratamento contra a obesidade de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde – SUS, incluindo tratamento clínico com consultas médicas e uso de medicação, acompanhamento com nutricionista e psicólogos para mudanças de hábitos e, nos casos em que os pacientes não respondem ao tratamento clínico, realização de cirurgias bariátricas e pós-bariátricas.
O cirurgião, Dr. André K. L. Bacelar, responde dúvidas frequentes sobre a cirurgia bariátrica de uma forma simples e bem direta. Acompanhe as respostas do especialista.
Quando a cirurgia bariátrica é indicada?
A cirurgia é indicada para os pacientes com IMC é igual ou superior a 40 kg/m², que passaram por todas as etapas do tratamento clínico, que dura cerca de dois anos, e não conseguiram diminuir o peso. Em geral esse paciente apresenta comorbidades graves, como diabetes, pressão alta e problemas articulares que comprometem sua saúde e qualidade de vida.
Há alguma restrição de idade?
Segundo recomendação da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde, a cirurgia bariátrica pode ser realizada em pacientes acima de 16 anos, com autorização dos pais e judicial. A partir dos 65 anos, tomamos mais cuidados e os riscos podem ser maiores. Podem ser operados pacientes com até 70 anos de idade.
Quais as contra-indicações?
É muito difícil ter uma contra-indicação absoluta. Em geral é a obesidade que causa as doenças no paciente. Mesmo que ele tenha uma doença de coração muito grave, uma doença articular muito grave ou mesmo uma doença psiquiátrica muito grave, a obesidade contribui para essas doenças. Então, trabalhamos em conjunto com outros especialistas, o cardiologista, o ortopedista ou psiquiatra, por exemplo, que, em geral, liberam a cirurgia e ajudam a estabalecer o risco cirúrgico. É muito raro um paciente que não possa ser operado.
Quais os riscos?
Toda cirurgia envolve riscos. A cirurgia bariátrica também. Hoje em dia ela é uma cirurgia muito segura, com riscos de morte ou de complicações próximos ao da cirurgia de vesícula, que tecnicamente é uma cirurgia simples. Existem sim, riscos de sangramento, de embolia, de fístula - que é a abertura de um grampinho. Atualmente, feita com um cirurgião certificado e experiente, é uma cirurgia muito segura.
Qual é o método cirúrgico?
Na maioria das cirurgias realizadas através do SUS utilizamos o Bay pass gástrico, que é aquela cirurgia em que se reduz o estômago e ainda associa um desvio do intestino de cerca de um metro e meio. Chamamos de cirurgia mista. É uma cirurgia que é restritiva, ou seja, o paciente não consegue comer muito, pois o estomago fica pequeno e é também disabsortiva, ou seja, nem tudo o que o paciente come será absorvido.
Outra técnica é a Sleeve, que só mexe no estômago. Em ambos os casos, o SUS só libera a cirurgia aberta. Existe um debate e esperamos que, em breve, seja liberada também a cirurgia através de videolaparoscopia, que é um método ainda mais seguro, de forma gratuita para quem precisa.
Qual o período estimado para a recuperação da cirurgia?
O paciente, em geral, fica de três a quatro dias internado. Dependendo da idade, do peso e das comorbidades é necessária internação em UTI no pós-operatório. O paciente vai começar a tomar líquidos no segundo ou terceiro dia após a cirurgia. Depois do quarto dia vai para casa. Os pontos e o dreno são retirados após 10 a 12 dias. O paciente pode fazer atividades mais leves ou até voltar para o trabalho, desde que não exija esforço, com 30 dias. Pacientes que tenham um trabalho um pouco mais intenso, com cirurgia de corte, necessitam de, pelo menos de 90 dias para voltar às atividades normais.
Quais são as indicações pós-cirúrgicas?
O mais importante é manter o acompanhamento multidisciplinar. O paciente deve fazer os retornos com o cirurgião e o acompanhamento com a nutricionista, com a psicóloga e com a endocrinologista. A equipe irá indicar os exames e demais procedimentos de rotina necessários avaliar a evolução do paciente, indicar a reposição de vitaminas e minerais, quando necessário. Em geral, nos primeiros meses após a cirurgia, já diminui muito o uso de medicamentos, como para diabetes e pressão alta e o processo de recuperação é bem mais fácil.
Quando a cirurgia pós-bariátrica (remoção de pele) é indicada?
É uma dúvida muito frequente. A cirurgia pós-bariátrica não é necessária em todos os casos. É indicada para os pacientes em que o excesso de pele dificulta a locomoção e a higienização. Não se faz a remoção de pele logo após a bariátrica, pois o paciente pode emagrecer mais e precisar de novos procedimentos. A indicação da cirurgia plástica é feita em conjunto pela equipe multidisciplinar, após a estabilização do peso, cerca de um ano e meio depois da bariátrica.
Como fazer cirurgia bariátrica pelo SUS?
Umuarama e região contam com o Programa de Cirurgia Bariátrica do Ministério da Saúde, através do Sistema Único de Saúde – SUS. O Instituto Nossa Senhora Aparecida é o hospital credenciado pelo SUS para a realização das cirurgias bariátricas e pós-bariátricas (remoção de pele) de forma gratuita.
O serviço está disponível em todas as unidades básicas de saúde dos municípios que integram a 12ª Regional de Saúde. Todo paciente que está acima do peso e tem dificuldades para emagrecer, tem direito a integrar o programa. Nem sempre a cirurgia bariátrica é necessária. Em muito casos, o paciente responde ao tratamento clínico e emagrece com o uso de medicamentos, reeducação alimentar e atividade física.
VOCÊ SABIA?
O Paraná pode ser considerado o campeão em cirurgias bariátricas no País pelo SUS. No ano passado o Estado realizou 6.692 cirurgias bariátricas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que representa 58,6% dos 11.402 procedimentos realizados em todo o Brasil para o tratamento da obesidade. O Estado conta com 13 hospitais credenciados para atendimento público e realiza cerca de 3 mil cirurgias por planos de saúde. Em Umuarama, O Instituto Nossa Senhora Aparecida é o hospital credenciado pelo SUS para a realização de cirurgia bariátrica e pós-bariátrica e também atende todos os planos de saúde.