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Avanço mandibular na apneia do sono e alto risco cardiovascular

Publicado em 26/09/2024 às 15:41

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um dos principais fatores de risco para eventos cardiovasculares (CV). A Apneia obstrutiva do sono (AOS) é subdiagnosticada e é causa de HAS, principalmente HAS resistente e refratária. As diretrizes de hipertensão recomendam diagnóstico e tratamento de AOS em pacientes com HAS por ser um fator de risco modificável. O CPAP é a primeira linha de tratamento de AOS, no entanto, alguns pacientes não se adaptam a este dispositivo. 

O estudo

O objetivo deste estudo apresentado no congresso do American College of Cardiology (ACC 2024) foi comparar a eficácia relativa de um dispositivo de avanço mandibular (DAM) vs CPAP na redução de pressão arterial (PA) de 24 horas ambulatorial para pacientes que recusam ou não toleram CPAP. 

O DAM avança a mandíbula durante o sono e reduz o colapso das vias aéreas neste período. Estudos prévios mostraram melhora da sonolência e da qualidade de vida. 

O CRESCENT trial foi um estudo de não inferioridade (com margem de +1,5 mmHg baseado em estudos prévios comparando CPAP e sham CPAP) e randomizado. A hipótese nula seria que o CPAP é mais efetivo em reduzir a média de PA em 1,5 mmHg. 

Os critérios de inclusão foram: ser chinês (pela conformação da face), ≥ 40 anos, ter HAS em uso de pelo menos uma medicação anti-hipertensiva, alto risco CV (definido por: diabetes, AVC prévio, coronariopatia significativa, doença renal crônica, idade ≥ 75 anos). 

Foram recrutados 321 participantes (o número necessário calculado para poder de 90% foi de 220 pacientes) em três hospitais públicos da China e Cingapura para polissonografia. Destes, 220 participantes com AOS moderada a grave (índice de apneia-hipopneia (IAH) ≥15 eventos/hora) foram randomizados para DAM ou CPAP (1:1) e seguidos por 12 meses de tratamento.  

O desfecho primário foi a diferença da média de PA de 24 horas após seis meses. 

Os grupos foram similares em características de baseline, sendo a média de idade 61 anos, > 90% homens, IMC ~27,5, média de pressão arterial sistólica (PAS) 125 mmHg. Entretanto, foram discrepantes em relação a taxa de adesão aos dispositivos: a média de uso ≥ 6 horas por noite foi de 48% no grupo DAM e apenas 23% no grupo CPAP. 

Resultados

A PA arterial média de 24 horas diminuiu 2,5 mmHg (p 0,003) aos seis meses no grupo DAM, enquanto nenhuma alteração foi observada no grupo CPAP (p 0,374). A diferença entre os grupos foi de -1,6 mmHg (IC 95% [-3,51 a 0,24], p não inferioridade < 0,001), demonstrando que o DAM foi não inferior ao CPAP pois o intervalo respeitou a margem de +1,5 mmHg pré-estabelecida. Os resultados foram semelhantes mesmo após a exclusão de 21 pacientes que tiveram seus anti-hipertensivos ajustados durante o seguimento. 

O grupo DAM demonstrou, também, maior redução nos parâmetros secundários da PA ambulatorial (PA diurna  e PA noturna) em comparação ao grupo CPAP, com o efeitos mais pronunciados na PA durante o sono. 

 Ambos os dispositivos melhoraram a sonolência diurna (DAM 15,4%, p 0,001 e CPAP 27,5%, p < 0,001), sem diferença estatística entre grupos (p 0,384).  

O DAM foi não inferior ao CPAP na redução da PA média arterial de 24 horas em pacientes chineses com AOS moderada a grave e hipertensão com risco CV aumentado. Deve-se observar que a taxa de adesão ao CPAP foi bem menor que a do DAM o que pode subestimar o potencial efeito do CPAP nesta população. 

Por Sara Del Vecchio Ziotti

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