Domingo, 24 de novembro de 2024 Login
O Radar do Câncer foi idealizado e criado pelo Instituto Oncoguia com o objetivo de auxiliar pesquisadores, repórteres, associações, secretários de saúde e o público em geral a entender os impactos dos diferentes tipos de câncer na população brasileira, bem como identificar possíveis gargalos no tratamento e na assistência desses pacientes.
Um desses “radares” foi desenvolvido para conhecer o impacto da Covid-19 na assistência oncológica, com foco nos dados coletados no DATASUS. A Covid-19 trouxe mudanças no dia a dia das pessoas, mudando os cuidados pessoais, a interação, a forma de trabalho e, principalmente, os atendimentos no sistema público de saúde. Utilizando esses dados públicos foi possível comparar os dados de 2020 com os de 2019 de alguns itens relacionados com o rastreamento, diagnóstico e tratamento dos pacientes oncológicos.
O radar do câncer e Covid-19
O Oncoguia ressalta que os dados do período de Covid-19 (mar/2020 a dez/2020) são passíveis de atualização por parte dos estados/municípios, portanto os valores aqui apresentados podem sofrer alterações, de acordo com a atualização dos arquivos do DATASUS.
Alguns destaques, infelizmente muito negativos:
Várias publicações internacionais têm alertado sobre o impacto futuro da Covid-19 na saúde oncológica, que certamente perdurará por muito mais tempo que a eventual duração da pandemia. Redução das taxas de cura já são esperadas nos próximos anos. Exames de rastreamento adiados, sintomas e sinais negligenciados, medo dos pacientes de se contaminarem em clínicas e hospitais, restrições reais de acesso por eventuais lockdowns, sobrecarga real do sistema de saúde, equipes desfalcadas, suspensão de procedimentos considerados eletivos ou não emergenciais, tudo isso vai ter um impacto profundo na saúde oncológica dos brasileiros. Não temos dados consolidados do primeiro bimestre de 2021, mas está claro que aqui a pandemia não acabou, podendo comprometer estes números de maneira similar ou até mais profunda do que 2020.
Se o ritmo da vacinação acelerar forte, poderemos ver a redução de casos, quem sabe ainda neste primeiro semestre, do mesmo jeito que alguns países como Israel, a Inglaterra e até os EUA já estão percebendo. Isto poderia ajudar a entrarmos no segundo semestre com uma retomada. Um acúmulo de casos, diagnósticos represados, mas uma retomada dos atendimentos pré-pandemia.
Importante que os médicos, as sociedades médicas envolvidas, a sociedade em geral, os pacientes e as ONGs como o Oncoguia (e tantas outras) conheçam estes dados, alertem e pressionem os Governos nas três esferas (Federal, Estados e Municípios) e o Ministério da Saúde a manter minimamente o funcionamento dos serviços oncológicos durante o ano de 2021, ampliando o acesso, fazendo mutirões para rastreamento, consultas, cirurgias etc.
Reduções de 30-40-50% em exames e terapias etc. em cima de um histórico de baixa cobertura como a do SUS é assustador…Difícil imaginar que a retomada seja em “V” após uma queda tão brusca, no momento em que vários estados e capitais estão colapsando. Mais tabelas e dados mais completos podem ser acessados no site do Oncoguia ou na referência citada abaixo.
A pandemia vai passar e os pacientes não podem pagar mais este preço devido ao coronavírus.
Autor: Gilberto Amorim
Formado em 1992 na UFRJ • Residência Médica em Clínica Médica no HUCFF – UFRJ • Residência em Oncologia Clínica no INCA • Oncologista do INCA de 01/1998 até 04/2008 –Chefe do Serviço do HCIII de 11/1999 até 05/2001 e de 12/2003 até 12/2005 • Membro Titular da SBOC desde 1996 • Membro titular da “ASCO” desde 2001 e da “ESMO desde 2016 • Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Mastologia desde 2009 • Oncologista e Coordenador Nacional de Oncologia Mamária da “Oncologia D’Or”, desde 05/2011 • Membro voluntário do Comitê Científico da FEMAMA, do INSTITUTO ONCOGUIA e da Fundação Laço Rosa
Fonte: PEBMED
Foto: shutterstock/Oncoguia