Domingo, 24 de novembro de 2024 Login
As disfunções sexuais podem ser desencadeadas por causas orgânicas e, muitas vezes, agravadas pela sua repercussão emocional.
Foto: Revista AMU/Shutterstock
O tema disfunção sexual é um eterno tabu, especialmente entre os homens, que evitam falar sobre o assunto e, pior ainda, admitir quando precisam de ajuda e tratamento. Esse silêncio pode acarretar em agravamento dos problemas físicos e emocionais que envolvem homens e mulheres acometidos pela doença. O médico psicanalista Sebastião Maurício Bianco tratou sobre disfunção sexual na reportagem publicada na 3ª edição da Revista da AMU - Associação Médica de Umuarama, abordando as causas, as consequências e reflexos do problema e apontando a solução. Leia na íntegra:
Dificuldades e disfunções sexuais em homens e mulheres
As disfunções sexuais podem ser desencadeadas por causas orgânicas e, muitas vezes agravadas pela sua repercussão emocional. Problemas de saúde físicos e psicológicos, uso de medicamentos, tabagismo, problemas afetivos, falta de experiência sexual e de conhecimento do corpo, traumas sexuais, assim como fatores socioeconômicos e profissionais, podem refletir-se de forma negativa na resposta sexual.
De acordo com o médico psicanalista Sebastião Maurício Bianco, uma disfunção pode ser primária, se coincide com o início da atividade sexual, e secundária, se foi adquirida ao longo do tempo. “Ela também pode ser generalizada, se está presente em qualquer circunstância, ou situacional, se está presente apenas em determinadas circunstâncias. As causas que podem estar na origem ou contribuir para estas dificuldades, podem ser biológicas, psicológicas ou do ambiente”, explica.
Dentre as disfunções sexuais femininas, há o desejo sexual hipoativo, que consiste na diminuição ou ausência total de desejo sexual. “A mulher não manifesta interesse por atividades sexuais ou eróticas preliminares e não sente desejo de iniciar a atividade sexual, podendo ocorrer a evitação do contato físico íntimo. Alterações hormonais, determinados medicamentos ou fatores psicológicos tais como depressão ou perturbações da ansiedade, podem contribuir para a diminuição do desejo sexual”, diz.
Atitudes negativas com relação ao sexo, educação sexual repressiva, história de violência ou de abuso e dispareunia são alguns dos fatores que podem contribuir para a aversão sexual, que faz a mulher negar ou evitar todo ou quase todo tipo de contato sexual genital. “Há também a perturbação da excitação sexual, que consiste na dificuldade em adquirir ou manter um estado de excitação sexual adequada até a consumação da atividade sexual, frequentemente expressa pela ausência ou diminuição da lubrificação vaginal”, pontua.
Dores
A dispaurenia é uma dor persistente na zona genital ou pélvica durante as relações sexuais. Embora a dor seja experimentada com maior frequência durante o coito, também pode ocorrer antes ou após a relação sexual. “Determinados problemas orgânicos como inflamações ginecológicas, fatores relacionais, conflitos psicossexuais, são algumas das causas podem contribuir para que a mulher sinta dor na relação sexual”, detalha Dr. Bianco.
Outro problema sexual enfrentado pelas mulheres pode ser o vaginismo, que é a dificuldade em tolerar a penetração, devido à contração involuntária, recorrente ou persistente, dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina. “Podem estar na origem do vaginismo fatores orgânicos ou psicológicos e emocionais que incluem falta de informação e crenças erradas ou negativas sobre a sexualidade (culpa, educação conservadora), inexperiência que pode conduzir a medos ou bloqueios e a uma resposta condicionada, experiências prévias com dor ou traumas”, afirma.
Homens e seus distúrbios
Muitos homens ainda têm dificuldade em procurar ajuda médica quando se trata de problemas de caráter sexual e reprodutivo. Porém, segundo o psiquiatra Sebastião Maurício Bianco, é preciso alertar que quanto mais cedo o homem assumir que pode precisar de apoio e aconselhamento médico, mais qualidade de vida ele vai ganhar. “É importante partilhar para não sofrer. Muitas das disfunções são facilmente tratáveis”, garante.
As disfunções sexuais masculinas mais comuns são com relação ao desejo (falta de interesse), excitação (disfunção erétil), orgasmo (disfunções ejaculatórias e inibições) e dispaurenia (dor). “Vale a pena salientar que todas as causas relacionadas às disfunções sexuais podem ser psicológicas ou orgânicas”, frisa.
A falta de desejo, por exemplo, pode estar associada a outras disfunções sexuais no homem ou na parceira, como o distanciamento emocional e conflitos no casal, doenças psiquiátricas (como depressão e perturbações de ansiedade) e acontecimentos de vida, como luto e outras perdas. “Como causas orgânicas pode ser os efeitos de uma doença física específica ou mesmo a iatrogenia, que é o uso de medicamentos como anti-hipertensivos, antidepressivos, antipsicóticos e anticonvulsivantes”, registra.
Disfunção erétil
A disfunção erétil ou impotência sexual é a incapacidade persistente ou recorrente para atingir ou manter uma ereção adequada até completar a atividade sexual, provocando acentuado mal-estar ou dificuldade interpessoal. “A disfunção erétil pode dever-se a várias causas, nomeadamente orgânicas, psicológicas ou mistas. Para sua resolução é fundamental não só a ida a um especialista, para se chegar a um diagnóstico adequado, como o diálogo aberto com a parceira”, direciona.
A idade é um fator que se relaciona com o aparecimento de disfunção erétil. Enquanto os indivíduos mais jovens têm mais probabilidade de desenvolver disfunção erétil de causa psicológica, os homens com mais idade desenvolvem habitualmente disfunção erétil de causa orgânica, devido à existência de outros fatores de risco.
Uma vez que as causas da disfunção erétil são de natureza diversa, os tratamentos podem envolver o aconselhamento sexual, uma terapêutica medicamentosa e em alguns casos a cirurgia. “Antes de qualquer decisão, o profissional de saúde poderá começar por dar alguns conselhos que podem ser benéficos para a saúde sexual do homem, nomeadamente a prática de exercício físico, alimentação cuidada, redução do consumo do álcool ou tabaco, bem como um maior tempo de descanso”, finaliza.
Principais causas da disfunção erétil
Doenças vasculares (arteriosclerose, problemas cardíacos, hipertensão), problemas neurológicos (lesões nervosas, esclerose múltipla, doenças degenerativas), diabetes, problemas hormonais (redução na produção de hormonas), uso de determinados medicamentos, problemas psicológicos, estresse, depressão, ansiedade de execução, medo do fracasso, baixa autoestima, insatisfação ou conflito conjugal e informação deficiente ou mitos sobre a sexualidade.