Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 Login
Os animais são nossos amigos, são companheiros, muitas vezes fazem parte da família, em alguns casos são a única família que nós temos. Hoje, fazem um papel muito importante, como catalisadores de afeto. Assim, Nise da Silveira chamava animais como cachorros e gatos. Os identificava como co-terapeutas no processo de cuidado do sofrimento psíquico, no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro no Rio de Janeiro, nos primórdios da psiquiatria brasileira.
Nise era estudiosa de Carl Jung, utilizava suas teorias para desenvolver práticas de cuidado. Observou que no cuidado de pessoas esquizofrênicas que possuem uma internalização da existência é necessário a presença e o silêncio. Essa companhia assídua que indicava aos profissionais representava um movimento afetivo. Esse mesmo comportamento podia ser observado nos animais. Afinal eles sempre estavam ali e sempre buscando as pessoas, proativos na construção de uma relação afetiva. Assim, Nise os chama de Catalisadores de Afeto ou co-terapeutas.
Animais como catalisadores de afeto
Nos dias de hoje, muitas pessoas vivem em solidão, com doenças mentais leves, moderadas e graves, com cobranças e estresses diversos do mundo do trabalho, com relações cada vez mais superficiais e menos duradouras. É nesse cenário que animais vem ocupando um espaço importante na vida das pessoas. Nos escutam, nos acompanham muitas vezes sem reclamar, gostam da nossa companhia, precisam de cuidados e produzem em nós um comportamento maternal ou paternal. São muito importantes principalmente pelo que Nise observou frente ao cuidado a pessoas com sofrimento psíquico.
Eles estão ali, nos momentos difíceis de nossas vidas, nos fazendo sorrir, nos fazendo caminhar em um parque, sendo companhia nos momentos de solidão. Por serem catalisadores de afeto, nos ajudam nos quadros de ansiedades e até da depressão. São amigos, recebem carinho e cuidado, mas devolve em dobro, mesmo quando não damos tanta atenção. São os melhores amigos do homem. Não é só o cão, mas os gatos, os pássaros e até os animais exóticos.
Existe uma grande influência dos animais de estimação na composição da autoestima e da autopercepção de felicidade de algumas pessoas. Alguns estudos mostram que eles trazem conforto e carinho. Os animais podem representar uma potência no tratamento psicológico, é comparável a atividades lúdicas, pelos simbolismos que possui. O crescimento afetivo e emocional é potencializado na relação homem-animal pela troca afetiva gratificante que se constrói, melhorando autoimagem, autoestima, senso de responsabilidade e são uma porta para a liberação de emoções.
Algumas pessoas relatam que poderiam ser solitárias sem seus animais domésticos, outros que eles trazem alegria e felicidade, sendo que as avaliações positivas rodeiam a literatura. Questões negativas apenas estão presentes frente ao trabalho e a responsabilidade que os animais geram e quanto às doenças que os animais podem trazer para o lar. Mas esses aspectos geralmente são considerados por membros da família que possuem menor afeição com o animal.
Terapia assistida por animais
Na década de 90, surge a terminologia terapia assistida por animais (TAA), utilizada por profissionais da saúde capacitados, tendo o animal como ferramenta terapêutica, possibilitando melhoria na condição física, social, emocional, cognitiva e comportamental. Lembrando que este animal faz visitas a pessoa, ou a família de forma constante e planejada, objetivando o entretenimento e a recreação. Diversos públicos podem ser beneficiados com esse processo. Sendo o cão o animal mais utilizado. Mas também podemos ter gatos, coelhos, peixes, hamsters, assim como outros animais. Essa prática necessita de ser realizada junto a um projeto terapêutico singular, sendo realizada uma entrevista clínica que proporcione informações que evite rejeição ou problemas nesse processo. Poderiam ser mais utilizados como recurso terapêutico de profissionais de saúde, principalmente para crianças que possuem dificuldade de comunicação e expressão, tais como crianças e adultos com os diversos graus do autismo, em doenças psicóticas, na ansiedade, na depressão e até nas doenças neurodegenerativas.
A TAA pode ser desenvolvida de várias formas e pode ser realizada em diversos ambientes, como hospitais, escolas e instituições de cuidado a idosos. Pode fazer parte do tratamento nas residências e outros espaços ao ar livre. Os profissionais de saúde podem se capacitar na área com cursos que os possibilitem a atuação. Na Europa e nos Estados Unidos da América, já temos pós-graduações na área com grande procura e desenvolvimento. É importante compreender que há três grandes áreas, são elas: AAA (atividade assistida por animais), TAA (terapia assistida por animais), EAA (educação assistida por animais). As três são importantes na busca da saúde de diversos públicos. Torna-se um instrumento de cuidado valioso através do afeto. E para nós profissionais tenho certeza que também somos catalisadores de afeto, com um companheiro de trabalho incrível. Lembre-se que a escolha do animal certo é fundamental, afinal, nós podemos escolher nossos amigos por afinidades.
Então, como é a sua relação com seu animal?
Autor: Rafael Polakiewicz
Doutorando em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF), Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF) e Especialista em Atenção Psicossocial.
Fonte: PEBMED
Foto: Divulgação
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