Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 Login
O Conselho Regional de Medicina do Paraná realizou na última quinta-feira (18) a sua 58ª sessão plenária temática, abordando os “Impactos da pandemia nos hospitais”. A apresentação coube aos presidentes das quatro instituições representativas do segmento hospitalar privado, com ou sem fins lucrativos: a Fehospar, o Sindipar, a Femipa e a Ahopar. A reunião foi pela web e envolveu a maioria dos conselheiros, incluindo os de cidades do interior. Ao estabelecer canal de diálogo, as entidades se dispõem a debater estratégias para enfrentar as muitas dificuldades e também os dilemas técnicos, legais e éticos que se apresentam.
O cenário apresentado é bastante sombrio, considerando vários fatores, como a drástica redução dos procedimentos eletivos, o aumento inflacionado de insumos e dos custos operacionais segurança de pacientes e funcionários, a reestruturação de equipes com afastamento de integrantes em situação de risco ou com testagem positiva pelo vírus e a queda abrupta de receitas. De acordo com os dirigentes, o ano será muito difícil e com real perspectiva de fechamento de muitos serviços de saúde, em especial os de menor porte ou localizados em pequenos centros urbanos, além da perda de leitos, capacidade assistencial e postos de trabalho.
A apresentação envolveu Rangel Silva, presidente da Fehospar (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Paraná) e do Sindicato dos Hospitais de Cornélio Procópio e Região; José Octávio da Silva Leme Neto, da Ahopar (Associação dos Hospitais do Paraná); e Flaviano Feu Ventorim, presidente do Sindipar (Sindicato dos Hospitais) e da Femipa (Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná. O presidente do CRM-PR, Roberto Yosida, fez a abertura e mediação da plenária pela web, tendo reconhecido a forte pressão que hoje recai sobre o setor de saúde e seus profissionais.
Situação difícil para o setor
No sentido horário: Roberto Yosida, Rangel Silva, José Octávio e Flaviano Ventorim. (Foto: CRM-PR)
Em sua fala, Rangel Silva, que também integra o Conselho Estadual de Saúde, estimou que na atual fase da pandemia e com a chegada do inverno, a taxa de ocupação em hospitais do interior caiu para menos de 50%, chegando a 30% em alguns casos. As cirurgias, avaliou, caíram até 90% de um mês para cá com a explosão de casos de coronavírus. O hábito da população de procurar direto o hospital para atendimento mudou muito com o isolamento e com a suspensão de procedimentos eletivos, contrastando com o aumento dos custos para manutenção da estrutura de serviços.
Rangel Silva entende que, nesta situação totalmente atípica, será difícil para os hospitais manterem as portas abertas e os empregos. Ressalta que as entidades representativas estão buscando várias possibilidades para que o setor não fique insolvente, como ajuda do governo, redução ou suspensão de cobrança de tributos e serviços de água e energia. Acentua que alguma ajuda já saiu às instituições filantrópicas, mas que as privadas vivem situação dramática, em que pese a elevação do conceito do setor de saúde, pela sociedade civil, neste momento de grande apelo e necessidade de serviços.
José Octávio Neto reforçou a análise, destacando que a ociosidade dos procedimentos eletivos, somada à elevação substancial dos custos operacionais, abala qualquer organização hospitalar. Ele disse que os recursos humanos também tiveram grande impacto da gestão dos serviços, pois houve afastamento de colaboradores em situação de risco e muitos encargos com reposição de pessoal, de remanejamento e treinamento de equipes e alteração dos protocolos de segurança. O presidente da Ahopar destacou ainda a forte pressão dos órgãos reguladores e de fiscalização neste momento sobre os serviços de saúde, o que também eleva em muito o custeio.
Conselheiros participantes da reunião plenária. (Foto: CRM-PR)
O dirigente hospitalar reforçou que “há um desafio administrativo enorme para manter a funcionalidade das estruturas, como exige a boa prática médica. Na pandemia, disse, gastos extras referentes a medidas protetivas do estafe e dos usuários, assim como o treinamento dos profissionais médicos e paramédicos, principalmente os que labutam em UTI, se tornaram elevadíssimos. Há que considerar, ainda, o grande número de profissionais que, por sua larga experiência, tiveram que ser afastados do trabalho por fazerem parte dos grupos de risco ao Covid-19 e cuja substituição exige treinamento especial aos seus mais jovens substitutos. Assinalou ainda que todo esse caos de substituições e dispensação trouxe uma grande insatisfação e insegurança aos trabalhadores, ocasionando infundadas delações e queixas a órgãos de controle na área da saúde. De acordo com ele, as operadoras de saúde não se sensibilizaram com a proposta de garantia de fluxo de caixa, em patamares anteriores à pandemia e para posterior ressarcimento, em pleito que poderia amenizar a agonia financeira dos hospitais.
Presidente do Sindipar e da Femipa, Flaviano Ventorim discorreu sobre o fato de que a pandemia não permite previsão exata de seu término e, consequentemente, imprevisível é o tempo que teremos que manter as medidas de isolamento social e as custosas ações preventivas. Exemplificou a desumana e incompreensível elevação dos custos de EPIs que, antes da pandemia disponibilizava máscaras cirúrgicas ao preço unitário de R$ 0,10 e hoje custa R$ 3,50. Frisou ainda o crescimento da judicialização de algumas terapêuticas, considerando o surgimento de uma verdadeira “indústria da judicialização” baseada na gratuidade das ações judiciais. Reiterou o “baque” decorrente da suspensão dos serviços eletivos e também pela descontinuidade de tratamento por elevado número de pacientes, que gera agravos de saúde e encarece internamentos futuros. Por último, externou sua preocupação com a súbita falta no comércio de relaxantes musculares, indispensáveis para uma humana intubação orotraqueal. A questão, diz, já foi levada ao MP pelos riscos que representam.
Telemedicina e campanha
Nas considerações finais, Flaviano Ventorim destacou que nos últimos dias a taxa de ocupação nos serviços destinados aos pacientes com Covid-19 subiu muito e nesse ritmo pode ficar comprometido o abastecimento da rede privada. Ele diz que, hoje, há harmonia entre os serviços do SUS e os particulares, mas que se houver estrangulamento na capacidade do primeiro o sistema todo pode entrar em colapso, ainda mais se depender de regulação pelos meios judiciais.
Entendem os dirigentes hospitalares ser fundamental o apoio às secretarias estadual e municipais de saúde, sobretudo no alerta à população para que atenda às recomendações de distanciamento social para que o sistema assistencial não entre em colapso. Também indicam que próprias instituições hospitalares devem estar atentas para que aos médicos não seja lançada a responsabilidade de decisões de escolha em casos de lotação da estrutura de UTIs. Eles reconheceram a necessidade de se repensar os modelos de remuneração na saúde e que, apesar da retomada difícil, é preciso instituições fortes e unidas para superação.
O presidente do Conselho de Medicina destacou algumas ações implementadas em ajuda a este difícil momento, como as atividades de educação continuada e recursos da telemedicina, como a plataforma para emissão de documentos médicos. “Foram mais de 53 mil documentos emitidos, que além da facilidade representa expressivo número de pessoas que deixam de circular”, destacou Roberto Yosida. O conselheiro José Knopfholz, por sua vez, reforçou o entendimento de que o setor está fragilizado, pois o atual momento não afeta somente pessoas, mas todo o sistema de saúde. Destacou, ainda, a campanha que o CRM vem desenvolvendo com as sociedades de especialidade, chamando a atenção da sociedade civil de que não se pode retardar a procura de assistência em situações de emergência ou prosseguir tratamentos regulares.
Fonte: CRM-PR
Foto: Sesa
EMPREENDEDORISMO FEMININO
A trajetória da cabeleireira Maria Augusta e o seu legado ao empreendedorismo feminino