Sábado, 23 de novembro de 2024 Login
Mais de 40 mil brasileiros estão em tratamento de hanseníase e dependem desses remédios, segundo o portal do Ministério da Saúde
Foto: Divulgação
O Brasil enfrenta um desabastecimento de medicamentos utilizados para tratar a hanseníase, uma combinação de três antibióticos (rifampicina, dapsona e clofazimina) chamados de poliquimioterapia, ou PQT.
De acordo com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) municípios de, no mínimo, 18 estados brasileiros estão sem PQT. A entidade já reuniu nos últimos 15 dias mais de 100 relatos de pacientes que estão desde o segundo semestre de 2020 sem tratamento.
A Coordenação Nacional da entidade se reunirá nos próximos dias com representantes do Ministério da Saúde, dos laboratórios públicos brasileiros e dos laboratórios internacionais envolvidos atualmente com a produção da medicação para encontrar uma solução.
Mais de 40 mil brasileiros estão em tratamento de hanseníase e dependem desses remédios, segundo dados de agosto de 2020 do portal do Ministério da Saúde.
Alerta da OMS
O Brasil foi informado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em dezembro de 2019 que haveria atrasos na importação dos medicamentos em virtude de complicações na produção, sugerindo o racionamento dos estoques.
Outros alertas e recomendações foram emitidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) diretamente ao governo brasileiro desde então.
Em agosto de 2020, o Ministério da Saúde solicitou, pela primeira vez, em caráter emergencial, a importação dos medicamentos à OMS. Mas, neste período, foi informado que houve problemas com a qualidade do produto.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), o dermatologista Claudio Salgado, a situação se tornou crítica em agosto de 2020, quando terminaram todos os estoques de Pernambuco, de São Paulo e do Pará.
O Morhan recebeu notícias dos estados de que o Ministério da Saúde recebeu uma leva da doação de PQT para distribuição nos últimos dias.
No entanto, especialistas alertam que é necessário construir uma solução definitiva para o problema com foco nos pacientes com maior vulnerabilidade.
“As informações dão conta ainda de que estão sendo priorizados os casos das pessoas já em tratamento que estão em risco de precisar começar o tratamento do zero por conta da interrupção. Ou seja, as pessoas diagnosticadas que ainda não começaram o tratamento, permanecem desassistidas. Isso no país que mais diagnostica casos novos da doença em relação a sua população”, alerta Artur Custódio.
Desde dezembro do ano passado, o SUS passou a oferecer um novo tratamento para pacientes com hanseníase resistentes a outros medicamentos oferecidos na rede pública. A ampliação considera casos resistentes ao medicamento rifampicina, com ou sem resistência associada à offloxacino.
O antibiótico claritromicina já é utilizado para o tratamento de outras patologias, como infecções de vias aéreas superiores e inferiores, infecções na pele e tecidos moles, entre outros.
Apesar de ser o país com o maior número de casos de hanseníase por habitantes no mundo – com 30 mil novos casos por ano – o Brasil não produz medicamentos para tratar a doença.
Os remédios do PQT que chegam ao país são, iguais em muitos outros países, doações diretas da OMS, que são repassados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e não são vendidos nas farmácias. Assim, todo paciente brasileiro depende exclusivamente do bom funcionamento do SUS para ter acesso ao tratamento.
Diante da crise de abastecimento e interrupção do tratamento, a ONU estima que o Brasil e demais países que passam pelo desabastecimento deverão ter um grave retrocesso no controle e transmissão da hanseníase e na prevenção de deficiências desses pacientes.
A redução de diagnósticos é outro problema que tem sido observada no Brasil durante a pandemia. De acordo com o Morhan, nos últimos cinco anos, o país registrou, em média, 15 mil casos de hanseníase no primeiro semestre de cada ano. Em 2020, o Brasil teve apenas 6 mil notificações nesse período.
Autor(a): Úrsula Neves - Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), pós-graduada em Comunicação com o Mercado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e em Gestão Estratégica da Comunicação pelo Instituto de Gestão e Comunicação (IGEC/FACHA)
Referências bibliográficas:
EMPREENDEDORISMO FEMININO
A trajetória da cabeleireira Maria Augusta e o seu legado ao empreendedorismo feminino