Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 Login
Durante o mês de agosto, todos os dias, pelo menos 10 mulheres receberam orientações e aprenderam um pouco sobre a importância do aleitamento materno e sobre a possibilidade de serem doadoras de leite, ajudando a alimentar os bebês internados na UTI Neonatal do Hospital e Maternidade Norospar.
A conscientização faz parte da Campanha Agosto Dourado, promovida pelo hospital, que se encerra com o mês, mas o Posto de Coleta tem ações contínuas de busca por doadoras para suprir a necessidade.
A campanha acontece desde 2017 e o balanço desses três anos é pra lá de positivo. “Nos últimos três anos, mais de mil doadoras passaram pelo Posto de Coleta. São mil mulheres cadastradas para doação de leite, mais de 800 litros de leite foram arrecadados, e mais de 500 bebês internados foram beneficiados por esse leite”, aponta a fonoaudióloga Daiane Ribeiro, responsável pelo Posto de Coleta, que funciona no Hospital Norospar.
Se tornando apta a amantar
O choque de ter os bebes internados na UTI Neonatal abala o estado emocional das mamães. Saber que seus filhos serão amamentados com o leite doado é um alívio, mas elas precisam dar sequência a essa amamentação depois que têm alta hospitalar, e nesse aspecto o trabalho da equipe do Posto de Coleta é fundamental. “Conforme a criança vai melhorando, o emocional das mães fica mais forte, e elas recebem orientação e estimulação dentro do Posto de Coleta, de como aumentar a produção de leite, recebem medicação para esse auxílio de produção, se necessário, e antes de receberem alta fazem o processo de relactação – ficam internadas com os bebês no hospital para conseguir amamenta-los antes de sair do hospital”, explica Daiane.
Ela destaca que o intuito é que toda mãe saia do hospital conseguindo amamentar. E as que apresentem algum tipo de dificuldade possam retornar ao Posto de Coleta de Leite para buscar esse auxílio.
PRIMEIRO BANCO DE LEITE DA REGIÃO
O encerramento desta edição da Campanha Agosto Dourado marca o reconhecimento do que foi realizado ao logo de três anos de funcionamento do Posto de Coleta, e a grande conquista que isso possibilitou: a instalação do primeiro Banco de Leite Humano da 12ª Regional de Saúde.
“O trabalho de conscientização das mães sobre a importância do aleitamento, e graças a esse número expressivo de mulheres que vêm ao posto de Coleta em busca da amamentação exclusiva, e conseguem auxiliar fazendo a doação, com volume suficiente, justifica a instalação do Banco de Leite”, analisa. “Para mim, é bastante satisfatório ver um trabalho que começou pequenininho tomar essa magnitude”, relata a fonoaudióloga.
É importante ressaltar que a instalação do Banco de Leite só será possível graças à doação do Rotary Club Catedral, por meio de um projeto humanitário com subsídio global, o primeiro projeto com esse tipo de recursos em Umuarama, que conseguiu proporcionar os equipamentos para pasteurização do leite.
Com o Banco de Leite, todas as mulheres da região que precisarem, poderão buscar ajuda, sem limite. “A intenção é que o volume de leite captado supra a necessidade de toda a UTI Neonatal e da maternidade Norospar. Que aquele bebê que nasce e a mãe não tem condições de amamentar nas primeiras horas pós cesárea, possa receber leite materno doado pelo Banco de Leite”, destaca Daiane.
Demanda contínua
Para suprir a demanda do Banco de Leite será necessário aumentar o número de doadoras. Isso porque as UTIs estão sempre cheias, os estoques em constante baixa, e o período de doação das mulheres é breve - de 4 a 5 meses de doação.
Apenas um grupo bem pequeno de mães conseguem doar por um período mais longo. “A licença maternidade se estendeu até os seis meses, mas no quinto mês as mães já se programam para desmamar, devido ao retorno ao trabalho. E se sai uma mãe, tem que entrar outra para o volume não cair, mas nem sempre o fluxo corre na mesma intensidade”, observa Daiane.
Ela faz um apelo às mulheres que estejam com leite sobrando ou tenham amigas ou conhecidas que estão jogando leite fora, com sobras da amamentação, para que entrem em contato com o Posto de Coleta e futuro Banco de Leite, para que esse leite possa ser captado e doado aos bebês que precisam.
Histórias estreitam laços
Entre as doadoras especiais, que conseguem estender o tempo de doação está a dentista Cicély Shiotani. Ela doou quase 51 litros de leite, no período de 1 ano e 10 meses. “Comecei a doar porque tinha muito leite e não sabia o que fazer com ele. Procurei a Daiane e ela me orientou sobre a importância da doação para os bebezinhos que ficam internados na UTI, de como eles se recuperam e até evitam maiores complicações, como infecções dentro da UTI, com o leite materno”, aponta. “Às vezes a gente acha que é pouco, mas cada gotinha vale ouro para o bebezinho que está na UTI”, reforça a doadora.
Cicély não viveu a experiência de ter o filho na UTI, mas se colocou no lugar dessas mães e sua doação acabou ajudando a alimentar o bebe de uma colega de trabalho, que precisou ficar internado na UTI neonatal do Norospar.
Outra doadora especial é a professora universitária Nathalia Novak Zobiole, que já estava grávida quando se mudou para Umuarama, e desejou amamentar desde que soube da gravidez. Ela leu, se informou e sua primeira filha nasceu com 38 semanas de gestação, mas com baixo peso. “Os primeiros dias foram difíceis pois eu tinha uma grande quantidade de leite, minha filha não conseguia mamar direito e acabou machucando um seio”, conta.
Nathalia foi orientada pela equipe do Posto de Coleta como proceder. Depois dos 20 primeiros dias a bebê começou a mamar bem, mas sobrava muito leite e ela acabava jogando fora. Ela amamentou até a filha completar 1 ano e 7 meses, e doou por 8 meses. Só parou de amamentar porque engravidou novamente, teve apendicite durante a gestação e precisou passar por cirurgia.
Em 30 de março nasceu a segunda filha, com 39 semanas e peso bom e dessa vez teve ainda mais leite do que na primeira gestação. “Minha filha machucou meus dois seios, mas aí eu já conhecia o Posto de Coleta e a Daiane me ajudou muito, foi um anjo”, recorda. “Ela e a Letícia me atenderam muito bem e deram orientações. Hoje minha filha continua mamando e ainda consigo doar. Quero amamentar até os 2 anos e se conseguir doar até lá ficarei muito feliz”, disse, animada.
Daiane destaca que ter uma criança na UTI pode acontecer com pessoas próximas. E nunca se sabe quando vai precisar. “Auxiliar uma mãe é um ato de solidariedade e de amor. E podemos contribuir para que a melhora dos bebês seja mais rápida e que possam voltar logo para casa”, reitera.
“É gratificante ter histórias como essas e de tantas mães que tiveram seus filhos na UTI, e saíram com esperança renovada de poder levá-los para casa, e ter suas famílias completas. É muito gratificante saber que meu trabalho pôde contribuir para a felicidade de uma família”, conclui.
A força da divulgação
Daiane se recorda que quando assumiu, em 2018, o hospital arrecadava em torno de 10 litros de leite materno por mês. Atualmente são 60 litros. Desde então foi dado início às campanhas de arrecadação, às orientações, as reportagens nos jornais e nas mídias sociais. Para ela, a divulgação fez toda a diferença. “O grande avanço se deve à divulgação sobre a importância do aleitamento materno e da doação de leite”, constata.
As redes sociais foram de fundamental apoio também em tempos de pandemia. A equipe do Posto de Coleta criou um grupo de WhatsApp, por meio do qual mantém contato com as mães doadoras. “Esse grupo é a forma mais fácil de contato com as possíveis doadoras, é uma via de acesso rápido a essas mulheres para orientações, é um grupo de troca de informações sobre doação, sobre os filhos delas, sobre crianças que estão na UTI, crianças que elas estão alimentando”, aponta Daiane.
O Posto de Coleta também disponibiliza um contato, via WhatsApp, de forma que qualquer pessoa pode se informar e tirar dúvidas: fone/ WhatsApp: (44) 98857-6075 ou 3621-1299.
Fotos: Assessoria/arquivo pessoal das entrevistadas
EMPREENDEDORISMO FEMININO
A trajetória da cabeleireira Maria Augusta e o seu legado ao empreendedorismo feminino