Quinta-feira, 28 de agosto de 2025 Login
Logo após o retorno às aulas em agosto de 2025, a saúde vocal dos professores volta ao centro das atenções, diante dos desafios crescentes de ambientes escolares com ruídos, salas com acústica ruim e conversas paralelas. Estudos indicam que até 80% dos docentes relatam sintomas vocais, enquanto cerca de 2% chegam a ser afastados da sala de aula por distúrbios vocais. Os distúrbios da voz em professores, especialmente disfonia, caracterizada por rouquidão, fadiga ao falar, alterações de tom ou volume da voz, são substancialmente mais comuns do que na população geral, e consequências já visíveis vêm retardando o retorno pleno ao trabalho após licenças médicas.
A percepção de que a voz do professor está em risco ganha contornos ainda mais nítidos quando dados de campo são cruzados com pesquisas acadêmicas. Um estudo aprofundado da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobre as condições de trabalho docente corrobora o cenário alarmante: a má acústica das salas de aula e a competição sonora com o ruído dos alunos são apontadas como as principais causas do esforço vocal contínuo. Essa sobrecarga, segundo a pesquisa, não é um mero acaso, mas um fator crônico que leva diretamente ao desenvolvimento de lesões como nódulos e pólipos, validando cientificamente a alta prevalência de distúrbios vocais na categoria.
O impacto dessa realidade vai além do cansaço e da rouquidão, afetando diretamente a saúde ocupacional e a continuidade do trabalho. O estudo da Unifesp detalha como a tensão vocal constante eleva os níveis de estresse e se torna um gatilho para licenças médicas, muitas vezes prolongadas. Fica claro, portanto, que a saúde vocal não é uma questão individual, mas um problema estrutural do ambiente escolar. A ausência de medidas preventivas, como a adequação acústica dos espaços e o fornecimento de equipamentos como microfones, transforma a sala de aula em um ambiente de risco para a principal ferramenta do professor, comprometendo não apenas o bem-estar do docente, mas a própria qualidade do processo educacional.
Em paralelo, um estudo realizado em 2023 pela UNIMONTES revela que cerca de um terço dos professores relatou quatro ou mais sintomas vocais, com risco 40% maior entre os que praticam pouca atividade física. Além da prevalência, fatores ocupacionais fazem o problema se agravar: salas com ruído excessivo, pó de giz, carga horária intensa (até 60 horas semanais), estresse organizacional e más condições de trabalho são apontados como causas principais dessa sobrecarga vocal.
Dados da UFMG mostram que um em cada três professores já percebeu limitação no trabalho por causa da voz, especialmente em contextos urbanos com altos níveis de ruído e exigência emocional. Segundo a otorrinolaringologista e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), Dra. Adriana Hachiya, isso ocorre devido aos ao esforço vocal e“padrões vocais inadequados" devido à sobrecarga das cordas vocais. o que pode levar a lesões causadas por fonotrauma, como inflamações, nódulos vocais e pólipos
Por isso, de acordo com a Dra. Adriana Hachiya, há formas de se prevenir e, em alguns quadros, amenizar a situação, como por exemplo:
Aquecimento e desaquecimento vocal: Técnicas simples do fonoaudiólogo ajudam na preparação e relaxamento da voz, reduzindo sintomas como cansaço e rouquidão.
Evitar o uso abusivo da voz: Gritos, ambientes barulhentos e esforço vocal constante devem ser evitados.
Hidratação contínua: Beber 2 a 3 litros de água por dia e evitar ambientes secos como ar-condicionado direto.
Cuidados com hábitos prejudiciais: Evitar fumo, roupas apertadas no pescoço, refeições pesadas antes das aulas para se prevenir contra possíveis refluxos.
Redução de ruído e melhoria do ambiente: Ventilação, limpeza da sala, menor uso de giz e estratégias pedagógicas que reduzam a competição sonora ajudam a preservar a voz.
Atividade física regular: Professores fisicamente ativos têm 40% menos prevalência de sintomas vocais.
Sobre a ABORL-CCF
Com mais de 70 anos de atuação entre Federação, Sociedade e Associação, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), Departamento de Otorrinolaringologia da Associação Médica Brasileira (AMB), promove o desenvolvimento da especialidade por meio de seus cursos, congressos, projetos de educação médica e intercâmbios científicos entre outras entidades nacionais e internacionais. Busca também a defesa da especialidade e luta por melhores formas para uma remuneração justa em prol dos mais de 8.500 otorrinolaringologistas em todo o país.