Quarta-feira, 13 de novembro de 2024 Login
O ácido fólico – forma sintética do folato, um tipo de vitamina B – é essencial durante a gestação. Ajuda no desenvolvimento neurológico do feto durante o fechamento do tubo neural, que, quando prejudicado, apresenta problemas morfológicos, como anencefalia, fenda palatina e o lábio leporino. No entanto, seu consumo em excesso pode aumentar em duas vezes o risco de autismo nos bebês, segundo novo estudo da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins analisaram o nível de ácido fólico no sangue de 1.391 mães, logo depois do parto, e de seus filhos durante o período de 1998 a 2013. Os resultados, relevados em 2016, mostraram que as mães de crianças autistas tinha níveis quatro vezes maiores de folato do que o recomendado – uma a cada dez voluntárias tinham o excesso da substância no sangue.
“O excesso de ácido fólico pode prejudicar os genes que fazem a maturação do encéfalo e causar alguma má formação, podendo desenvolver autismo ou autismo parcial”, explicou Antonio Cabral, doutor em obstetrícia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, mas tem como causa outros fatores mais amplos. A quantidade excessiva atua em um quadro muito específico do DNA do feto, um fator isolado. “Tem de ter predisposição genética e outros fatores. O excesso de folato pode ter uma consequência diferente em outra pessoa”, disse o médico.
Na época, alguns médicos rebateram os resultados do estudo. Afinal, a vitaminaainda é essencial na proteção dos riscos de mal formação do feto. Na verdade, de acordo com um estudo anterior, publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), a ingestão de ácido fólico, que pode ser encontrado naturalmente em frutas e vegetais ou farinhas enriquecidas, poderia até reduzir o risco de autismo. “O que não deve haver é uso em altas doses”, explicou Cabral.
Segundo o médico, o ideal é ingerir de 0,4 a 0,8 miligramas por dia antes de engravidar e nos três primeiros meses da gestação, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Além disso, se tomada em doses reduzidas durante o resto da gestação, a vitamina auxilia na formação do coração e evita o parto prematuro.
“A suplementação adequada é protetiva, continua sendo o caso do ácido fólico”, disse Daniele Fallin, uma dos autores do estudo principal. No entanto, mais estudos são necessários para determinar a quantidade ideal da vitamina para cada gestação. O alerta é para que médicos e as mulheres grávidas se atentem à dosagem adequada. “Se a mulher tem alguma atividade ou hábito que possa reduzir o ácido fólico [no organismo], como fumar ou atividade física intensa, pode usar dentro dessa dosagem ou um pouco mais. Tem de conversar com o médico para ver se é excessiva”, concluiu Cabral.
De acordo com Andreas Stravogiannis, diretor técnico da Associação de Amigos do Autista (AMA), entre as possíveis causas ambientais do autismo podem estar as infecções neonatais, problemas durante o trabalho de parto, exposição a substâncias químicas ou tóxicas durante a gravidez ou os primeiros anos do bebê, parto prematuro e a desnutrição da mãe. “Quando se chega ao diagnóstico de autismo, cabe investigar as possíveis causas, mas, na maioria das vezes, as pacientes não têm evidências suficientes que justifiquem o autismo”, explicou, entretanto.
Sobre o estudo, Stravogiannis salienta o fato de os cientistas terem analisado os níveis de folato no sangue das mães somente no pós-parto. “O ácido fólico age no primeiro trimestre, principalmente, no tubo neural. Teria de ver se nesse período inicial [as mães] tinham valores elevados.”
(Fonte Veja. Conteúdo Estadão)
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