Domingo, 8 de dezembro de 2024 Login
A evidências sugeriram que as usuárias do método têm um risco aumentado de câncer de mama, independentemente da idade
Foto: Divulgação
Alguns estudos já demonstraram que certos contraceptivos hormonais orais têm associação com aumento de risco de câncer de mama, especialmente se usado por longos períodos. O dispositivo intrauterino de 52 mg de levonorgestrel (Mirena®) tem sido usado em larga escala não só como anticoncepção, mas como também no controle de hipermenorreia, dismemenorreia, e terapia hormonal na pós-menopausa. O DIU hormonal concentra 1.000 vezes mais hormônios no interior do útero do que no plasma, e por isso, mantém baixos os níveis de levonorgestrel circulante.
Nesse contexto, surge a dúvida, se mesmo essa baixa concentração sistêmica circulante de hormônio do DIU hormonal seria capaz de se associar com risco de câncer de mama, bem como as pílulas orais.
Estudo recente e brasileiro
Ano passado, então, a Nordic Federation of Societies of Obstetrics and Gynecology publicou um estudo brasileiro realizado nas principais Universidades de São Paulo que avaliou o risco de câncer de mama associado ao DIUMirena ®
O estudo selecionou oito trabalhos para revisão sistemática e realizou uma meta-análise em sete trabalhos, três publicações eram estudos de casos controles e cinco coortes. Os resultados da meta-análise indicaram risco aumentado de câncer de mama em usuárias de Mirena®: para todas as mulheres, odds ratio (OR) = 1,16 (IC de 95% 1,06-1,28, I 2 = 78%, P < 0,01); para mulheres < 50 anos, OR = 1.2 = 66%, P = 0,02); e para mulheres com idade ≥ 50 anos, OR = 1,52 (IC 95% 1,34-1,72, I 2 = 0%, P = 0,84).
Conclusões do estudo
A evidências sugeriram que as usuárias do método têm um risco aumentado de câncer de mama, independentemente da idade e indicação, esta associação parece ser maior em usuárias mais velhas.
No entanto, a revisão sistemática detectou problemas metodológicos nos estudos disponíveis, e fatores de confusão, exemplo: exposição da mesma paciente a contraceptivos orais combinados muitas vezes utilizado imediatamente antes a inserção do DIU, além disso a maioria dos estudos não quantificou o tempo de uso nem quantos dispositivos a paciente usou (ex.: algumas pacientes usam por 15 anos ou mais o método).
Além disso, o risco de câncer de mama em pacientes mais velhas pode estar se confundir com o risco ser aumentado nessa faixa etária simplesmente. Outro ponto é que as pacientes muitas vezes eleitas para o uso do DIU hormonal, por exemplo com obesidade para tratamento de sangramento uterino aumentado, também têm grande fator de risco para câncer de mama.
O uso indiscriminado do DIU hormonal sem indicação bem estabelecida deve ser evitado por parte dos ginecologistas. Deve-se fugir da indicação puramente ligada à anticoncepção confortável para paciente.
O cuidado e os riscos devem ser equilibrados com os benefícios de saúde comprovados, por exemplo, tratamento eficaz de sangramento menstrual intenso e prevenção de intervenções cirúrgicas, ao prescrever Mirena® por longos períodos de uso, especialmente em mulheres já utilizaram por longa data anticoncepcionais orais, ou com qualquer outro fator de risco para câncer de mama conhecido, como idade avançada, obesidade e predisposição familiar.
Autora: Juliana Olivieri - Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ⦁ Ginecologista e Obstetra ⦁ Pós-graduada em Endocrinologia Feminina e Climatério pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira(IFF/Fiocruz)
Referências bibliográficas: