Quarta-feira, 13 de novembro de 2024 Login
Esse consumo maior de bebidas alcoólicas, principalmente em casa, foi constatado mais diretamente aqui no Brasil
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) realizou uma pesquisa no ano passado em que confirma uma preocupação levantada no início da pandemia: a intensificação do abuso de álcool durante o isolamento social.
Os pesquisadores confirmaram o que já se imaginava: as bebidas alcoólicas são ingeridas para aliviar o estresse do dia a dia. Entre os entrevistados, 52,8% dos que exageraram na dose relataram ao menos um sintoma emocional como ansiedade, nervosismo, insônia, preocupação, medo, irritabilidade e dificuldade para relaxar. Esse comportamento vale também para os benzodiazepínicos.
Consumo de bebidas alcóolicas em casa
Esse consumo maior de bebidas alcoólicas, principalmente em casa, foi constatado mais diretamente aqui no Brasil, segundo uma pesquisa realizada pela plataforma Compre & Confie – empresa de inteligência de mercado focada em e-commerce.
A venda online de bebidas alcoólicas subiu 93,9%, com 248,9 mil compras realizadas. A pesquisa analisou o consumo de 24 de fevereiro a 3 de maio e comparou os resultados com o mesmo período de 2019. Além de comprarem mais, consumidores também estão gastando valores mais elevados por pedido. O tíquete médio analisado pela companhia é de R$ 310,70, valor 4,3% maior do que o mesmo período do ano anterior.
Se depender das compras pela internet, o faturamento do setor vai muito bem: no período, atingiu R$ 77,3 milhões, um aumento de 102,4% em relação ao mesmo período de 2019.
Influência da pandemia
Para o médico e psicólogo Roberto Debski, a necessidade de isolamento fez com que as pessoas do mesmo núcleo familiar ficassem mais juntas em casa e tivessem potencializados os seus problemas de relacionamento, trazendo dificuldades profissionais e financeiras, além de gerar medo e preocupações em relação ao adoecimento e morte, para si e para as pessoas amadas.
“Todos estes e outros fatores geraram um aumento nos níveis de estresse, ansiedade e depressão, com a consequente elevação da ingestão de álcool e drogas, os quais causam sensação de prazer imediato e tiram o foco de tantas fontes causadoras de sofrimento emocional”, analisa o psicólogo.
Doença crônica e multifatorial
O álcool provoca a demência alcoólica, doença em que o indivíduo fica senil antes do tempo, uma vez que o cérebro para de funcionar devido a alterações no cérebro. Além de afetar todo o sistema nervoso central, o álcool também interfere no sistema cardiovascular, com os indivíduos ficando mais vulneráveis a desenvolver acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo. Esse rompimento de artérias pode deixar sequelas e até levar ao óbito.
“A dependência de álcool ou o transtorno por uso de álcool, como é chamado atualmente, é uma doença crônica e multifatorial. Isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais”, complementa a psiquiatra Lívia Beraldo de Lima Basseres, mestre em psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (IPQ-FMUSP)
Como o médico deve proceder?
Pacientes alcoólicos devem ser avaliados, em um primeiro momento, sobre a quantidade de álcool consumida, a frequência e como isso tem afetado sua saúde física, emocional e as relações interpessoais.
Muitas vezes a avaliação de instrumento de detecção de problemas relacionados ao uso de álcool (CAGE) não apenas fornece um parâmetro do comprometimento do paciente, mas também o ajuda a entender o quanto está comprometido.
Duas respostas positivas já sugerem dependência e/ou uso abusivo:
1 – Já tentou reduzir ou parar de beber e não conseguiu?
2 – Já ficou incomodado com os outros por criticarem seu jeito de beber?
3 – Já se sentiu culpado por beber?
4 – Já precisou beber mais para aliviar a ressaca?
O papel do médico, independente da especialidade, deve ser sempre de questionar o seu paciente sobre os hábitos e a mudança nos mesmos durante esse período de pandemia, incluindo o uso de álcool e outras drogas, como medicações. “O médico também é um formador de opinião e pode ajudar o paciente e a família com um encaminhamento adequado”, diz a psiquiatra Lívia Basseres.
Nos serviços de urgência e emergência, todas as medidas para a manutenção da vida devem ser feitas. “Algumas vezes, é preciso encaminhar o paciente para a internação clínica ou psiquiátrica para a continuidade do tratamento”, pontua o psicólogo Roberto Debski.
Ao detectar o aumento do consumo e prejuízos em qualquer área da vida do paciente é importante que o profissional esclareça sobre os malefícios do uso abusivo de álcool e ofereça o melhor tratamento indicado para cada caso.
“O tratamento deve incluir medicação, atividades físicas e psicoterapia. Existem várias linhas de psicoterapia, a mais utilizada em dependência química é a cognitivo comportamental. Ela vai auxiliar o indivíduo a mapear gatilhos relacionados ao uso, o papel da substância na vida entre outras questões”, esclarece Lívia Basseres.
Autora: Úrsula Neves - Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), pós-graduada em Comunicação com o Mercado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e em Gestão Estratégica da Comunicação pelo Instituto de Gestão e Comunicação (IGEC/FACHA)
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