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Sexualidade na Infância Psicóloga fala da importância do diálogo para o desenvolvimento saudável das crianças

Publicado em 19/01/2025 às 06:00 por Editoria Movimento Saúde

Falar sobre sexualidade na infância ainda é um tema que gera dúvidas e receios entre os pais, responsáveis e educadores. No entanto, compreender e abordar a sexualidade desde cedo é fundamental para o desenvolvimento emocional e social das crianças, além de ser uma ferramenta importante na prevenção de abusos e na construção de autoestima.

Para esclarecer esse tema tão relevante, conversamos com a psicóloga Jéssica Oliveira (CRP 08/37555), especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Desenvolvimento infantil. Com sua experiência em educação parental, Jéssica destaca a necessidade de abrir espaço para conversas honestas e apropriadas sobre sexualidade desde os primeiros anos de vida.

Segundo ela, sexualidade vai além do aspecto reprodutivo; é uma dimensão que nos acompanha ao longo de toda a vida, abrangendo vínculo emocional, respeito ao corpo, consentimento e a formação de uma relação saudável consigo e com o mundo, sem contar que nos proporciona conhecimento amplo para que não vivencie a gravidez na adolescência e diminua os abusos e/ou violências sexuais.

Confira a entrevista completa com a psicóloga Jéssica Oliveira, que esclarece dúvidas frequentes e oferece orientações valiosas para que pais e responsáveis possam lidar com a temática de forma natural e educativa.

O que é Educação Sexual na infância e Adolescência?

Antes de entendermos sobre a Educação Sexual, necessitamos entender o real conceito de sexualidade. É em essência o que dá sentido e significado à existência humana e envolve diversos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais, transmitidos de geração em geração. A sexualidade nasce com o bebê e evolui durante toda a vida. É um processo complexo que vai além do ato sexual e sofre alterações em função da fase de desenvolvimento humano que nos encontramos: infância, adolescência, fase adulta ou terceira idade. A sexualidade é um processo que muda em cada etapa de desenvolvimento do ser humano. Aborda valores e normas morais aceitas por cada sociedade envolvendo rituais, linguagens, representações e símbolos.

Quais são as fases da Teoria do Desenvolvimento Psicossexual na Infância.

São cinco etapas de extrema importância: Oral, Anal, Fálica, Latência e Genital que determinarão a vida sexual de todos.

Fase Oral: É de zero a 18 meses e se caracteriza pelas primeiras trocas afetivas que são realizadas via oral. A energia sexual está na boca e o prazer na sucção. Nessa etapa, a criança se relaciona com o mundo através das experiências sensoriais e leva tudo à boca.

Fase Anal: É de 1 a 3 anos de idade. Nessa fase, a criança começa a apresentar tentativas de controlar o mundo externo e seus pais. Começa a andar, falar e a testar seus limites. Sua ligação se dá pelo que é produzido pelo ânus, o cocô. A zona de satisfação e prazer é o ânus e o controle esfincteriano e a representação é de independência, controle, escolha e poder.

Fase Fálica: É aproximadamente dos 3 aos 6 anos de idade. Nessa fase, surge na criança o desejo de manipular o órgão sexual. A criança não tem vergonha, gosta de se despir, tem muita curiosidade em conhecer seu genital e de seus colegas. Começa a perceber a diferença entre feminino e masculino.

Fase Latência: Costuma abarcar dos 7 aos 11 anos, período que antecede a puberdade e nesse momento acontece a preparação psíquica para as mudanças que estão por vir. Nessa fase a libido é deslocada para atividades socialmente aceitas e a criança passa a investir sua energia em atividades escolares e sociais. O intelecto passa e ter muita importância e juntamente com isso as habilidades intelectuais são muito valorizadas e cobradas pela família. Nesse contexto, a sexualidade perde espaço e se manifesta de diferentes formas: através de bilhetes e desenhos; exibicionismos; comportamentos obscenos; preocupação com assuntos sexuais; amor platônico; clube dos meninos e das meninas;

Fase Genital: Se inicia aos 12 anos de idade e perdura por toda adolescência. Inicia-se com a puberdade e é um período de mudanças onde a identidade infantil, é deixada de lado para a construção de uma nova identidade que pouco a pouco se transformará em identidade adulta. Nessa etapa, as curiosidades sexuais se apresentam mais complexas e os impulsos sexuais são retomados e direcionados para o outro.

Por que é importante que os pais compreendam esse conceito desde cedo?

Muitas famílias não trabalham a questão da sexualidade dentro de casa e acabam terceirizando esse assunto para que a criança descubra no decorrer da vida, o que é algo muito perigoso. Essa responsabilidade é de os pais abordarem temas relacionados à sexualidade, começando na infância para que a criança já possa crescer mais reflexiva e autoconfiante, reproduzindo menos estereótipos e preconceitos. Além disso, A educação sexual não se restringe ao ensino da biologia e fisiologia da sexualidade, ela ensina a pensar sobre todas as questões que envolvem o corpo e o relacionamento entre pessoas. É importante compreender que abordar a sexualidade não é falar só sobre sexo e não estimula a sexualização precoce, sendo que é ao contrário, poderia diminuir o número de vítimas que sofrem de abusos, onde a maioria são praticados por parentes das crianças.

Como os pais podem começar a conversar sobre sexualidade com as crianças de maneira natural e respeitosa?

É muito comum a criança começar a perguntar questões relacionadas à sexualidade. Por isso, o ensino é voltado a propiciar o aprendizado das crianças, primeiramente, de como seu corpo funciona e não é uma incitação à sexualização dessas crianças. Muito ao contrário, é preventivo. Porque aquela criança que aprende a desenvolver o autocuidado, a como diferenciar o que é o espaço do seu corpo e o espaço do corpo do outro, ela está mais protegida, em relação inclusive a poder perceber algum tipo de assédio, algum tipo de invasão dentro desse território. Muitos pais, devido ao fato de não terem recebido este tipo de orientação, têm vergonha de falar com os filhos sobre sexo. Mas, a partir do momento em que a criança começa a falar de namoro, que tem um namoradinho na escola, a gente já deve começar a explicá-la sobre as partes íntimas e o que ela não pode deixar que façam com seu corpo, deixando claro que namorar é coisa de gente grande e não de criança. Mas, tem que falar com jeitinho, sem fazer terrorismo, usando uma linguagem que a criança entenda, de forma natural, respeitosa e sem ameaças ou amedrontamento.

Quais são os sinais de que os pais estão criando crianças sexualmente saudáveis?

Quando você consegue abrir espaço para dialogar sobre a educação sexual com a criança e possibilita uma contrapartida dela para apresentar suas dúvidas ou experiências, demonstra segurança e busca do conhecimento familiar ao assunto, sem que seja um tabu ou algo inacessível.

Crianças sexualmente saudáveis apresentam as seguintes características: Se sentem bem com seus corpos; respeitam os membros da família e outras crianças; entendem o conceito de privacidade; tomam decisões adequadas à sua idade; ficam à vontade para fazer perguntas; 6) se sentem preparadas para a puberdade.

Como o silêncio ou a repressão sobre o tema pode impactar negativamente o desenvolvimento emocional da criança?

Não falar sobre educação sexual dentro de casa e tratar como um tabu, pode ter consequências gravíssimas como: violência sexual, gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Além disso, início precoce da vida sexual, consequências negativas na saúde mental, aborto espontâneo ou induzido e até mesmo a depressão pós-parto.

Quais são as principais dúvidas que as crianças costumam ter sobre sexualidade e como os pais podem respondê-las adequadamente?

As perguntas mais comuns são:

Papai, por que o seu pênis é grande e o meu é pequeno?

Por que a mamãe faz xixi sentada e eu de pé?

As meninas têm pipi?

Onde eu estava antes de entrar na sua barriga?

O que é camisinha? 

1. Seja lúdico, mas não minta – “De onde vem os bebês?”. Essa pergunta é o ponto de partida para uma série de dúvidas e descobertas sobre sexualidade que vão surgir na infância. Portanto, estabeleça desde esse início um vínculo forte de confiança com seu filho. Não diga que foi a cegonha ou um anjinho que trouxe o bebê, por menor que a criança seja. Ela vai desenhar essa imagem na cabeça e, mais tarde, descobrirá que os pais mentiram. Mas a história da sementinha que o papai colocou na mamãe é lúdica e mais próxima da realidade. O importante nessa fase das primeiras dúvidas é ser objetivo. Não adianta entrar em muitos detalhes, porque os pequenos nem entenderiam.

2. Não fuja de nenhum tema – Mudar de assunto ou dizer que aquela “não é uma conversa de criança” é uma péssima maneira de reagir aos primeiros questionamentos. Fugir da pergunta passa a mensagem de que aquele é um tema tabu, que não deve ser falado e que existe algo proibido em torno do sexo. Uma saída é dizer: olha filho, eu vou pesquisar e quando souber a resposta certinha te digo. E retomar a conversa em um momento mais tranquilo e oportuno. Também é importante ouvir a criança e dar credibilidade as suas dúvidas, isso é essencial para que elas tenham um desenvolvimento sadio, num ambiente seguro. Quando a educação sexual começa desde cedo, é meio caminho andado para a prevenção da violência sexual.

3. Antes de proibir, entenda a origem da pergunta – Seja por meio das músicas ou das dancinhas hipersexualizadas que viralizam nas redes sociais, está cada vez mais complicado controlar o acesso infantil aos conteúdos impróprios na internet. Se por acaso a criança repetir ou quiser saber o que significa um termo de duplo sentido ou um palavrão, reprimir não é o caminho. Aproveite para conversar sobre o assunto. Pergunte o que ela achou e entendeu daquilo. Primeiro escute a criança ao invés de passar um sermão ou dizer que é feio e não pode. Às vezes, ela está fazendo uma leitura inocente e o adulto vai lá e despeja uma série de informações desnecessárias.

4. Explique que algumas práticas são íntimas – Descobrir as primeiras noções de prazer sexual e de brincadeiras com os órgãos genitais é parte do processo de crescimento. Porém é preciso que a criança entenda que aquela prática deve acontecer em privacidade. A hora do banho é um bom momento para explicar que algumas partes do nosso corpo são íntimas, apenas nossas.

5. Diga que cada um tem seu jeito de namorar – Falar sobre orientação sexual com uma criança não deve ser nenhum bicho de sete cabeças. Assim como as outras dúvidas sobre sexualidade, as respostas devem ser simples e diretas. Explique que as pessoas são diferentes e que, por isso, cada uma tem o seu jeito de namorar e querer ficar junto. Se a criança for mais velha, com uma melhor compreensão, é possível acrescentar que orientação sexual não pode ser a medida para o julgamento de uma pessoa.

A sexualidade infantil também envolve a prevenção de abusos. Que orientações os pais podem dar para que as crianças reconheçam situações de risco?

O tema é bastante delicado, mas as crianças precisam se sentir seguras para contar aos pais ou para pessoas de confiança quando alguém tenta tocá-las de forma inapropriada ou até abusá-las de alguma forma. Além disso, precisamos explicar que mesmo que digam que é segredo ou que ninguém pode saber, os pais precisam estar cientes do que é feito no corpinho dele. É muito importante dizer para seu filho que, sempre que ele se sentir incomodado com algum toque, ele deve dizer “não” e contar imediatamente para alguém de confiança o que está acontecendo, jamais esconder.

Como os pais podem abordar o tema do consentimento com crianças pequenas?

Com as crianças pequenas, não será diferente da liberdade e segurança que a criança precisa sentir com os pais, além da repetição do “não” e da necessidade de contar a alguém de confiança. É muito adequado usarmos o semáforo do toque com os pequenos, pois é uma forma lúdica de mostrar os lugares que podem e quem pode tocar, diferenciando dos que não podem e que ninguém além dos pais podem tocar. Usando as cores do semáforo que é algo em que as crianças pequenas observam bastante e possuem uma compreensão facilitada.

 

Qual o papel da escola na educação sexual e como os pais podem colaborar com as instituições de ensino nessa área?

A escola tem um papel fundamental na educação sexual e podem receber a colaboração dos pais para que as perguntas sejam respondidas de forma natural.

Escola: 1) Abordar o tema de forma natural, sem medos, castigos ou tabus. Ensinar aos alunos a protegerem o seu corpo e terem privacidade sobre ele. 2) Ajudar os alunos a entender a diferença entre o que é permitido e o não permitido. 3) Ensinar a dizer não ao toque inapropriado de forma indesejada e a importância de alertar um adulto responsável, além de denunciar o abuso.

Pais: 1) Responder as perguntas dos filhos sobre sexualidade. 2) Entrar no assunto com naturalidade sem violência ou grosseria. 3) Explicar que o corpo de cada pessoa é único e ninguém tem direito de tocar nas partes íntimas de outra pessoa.

Pais e responsáveis muitas vezes se sentem inseguros ou desconfortáveis para falar sobre sexualidade. Que mensagem você daria para tranquilizá-los?

De uma maneira ou de outra vai chegar um momento da vida da criança que ela vai receber informações e conteúdos sexuais que iram alimentar sua curiosidade, responder suas dúvidas e instigar a aprender mais sobre aquilo. Por isso, é muito melhor que essas informações e psicoeducação venha de dentro de casa, por aqueles que querem o bem da criança e podem influenciar a não serem vítimas de situações horríveis, do que vir de fora. Os pais nunca conseguirão proteger completamente os filhos de todos os malefícios da vida, mas podemos através da orientação, conversas abertas, parceria familiar e ambiente seguro, promover a consciência infantil daquilo que deve ou não evitar que chegue até eles de formas inapropriadas.

Que recursos ou materiais educativos você recomenda para ajudar pais e responsáveis a abordar o tema da sexualidade infantil de forma adequada?

Temos vários materiais, livros e jogos que são ótimos para trabalhar e ensinar a criança como: Semáforo do Toque, Pipo e Fifi, Conteúdos em Vídeo Lúdicos, Caça Figuras Conhecendo o Corpo Humano, Mamãe botou um Ovo, Cartilhas sobre Sexualidade Infantil, além de o Corpo das Garotas e o Corpo dos Garotos.

São materiais incríveis que irão proporcionar muito conhecimento, um momento de aprender de forma descontraída, lúdica, interativa e facilitada, uma forma naturalista e sem tabu.

SOBRE A ENTREVISTADA: Jéssica Oliveira, é Psicóloga Infantojuvenil, formada pela Universidade Paranaense – Unipar Sede. É especialista Psicologia Perinatal pela Fratelli e Educação Parental em Disciplina Positiva, Pós-graduada em Desenvolvimento Infantil e também em Terapia Cognitivo-Comportamental na Infância e Adolescência pelo CBI of Miami. Autora do Ebook infantojuvenil "Se Conhecendo para Crescer. Acredita fielmente que os hábitos que as crianças formam na infância não fazem pouca diferença na vida deles, na verdade fazem toda a diferença pelo resto de suas vidas. Até por que educar é acolher, é estar ali por uma criança com páginas em branco e indefesa que ainda não compreende vários sentimentos que passam em seu coração

Instagram: @psi.jessicaoliveiraa
Contato: (44) 99818-2817

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