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Todo ser humano precisa expressar suas emoções de alguma forma, sejam elas boas ou ruins, e o choro é a manifestação dos nossos sentimentos por meio das lágrimas

Foto: Divulgação

Chorar faz bem e é necessário para nossa saúde mental, entenda por quê

Publicado em 06/09/2020 às 08:00

"Na sala de parto, nós, médicos, nos preocupamos quando o bebê não chora. E tem de chorar forte, como competição de olimpíadas em que o exercício vale nota - quanto mais forte o choro, melhor a pontuação. Logo se vê a importância do chorar. Você diria, então, que o bebê chorão nasceu desequilibrado? Imaginaria que ele vai crescer uma pessoa frágil e muito sentimental? Na selva em que dizem vivermos, profetizam que temos de ser fortes. É assim que o adulto vai desaprendendo a chorar, como se o choro fosse algum sinal de fraqueza. Mas meus amigos: quem não chora não mama”.

É assim que o psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e colaborador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Victor Bigelli de Carvalho, descreve a importância do choro.

Já na fase adulta, o choro continua sendo essencial e está presente em todas as culturas. Choramos quando perdemos um ente querido, quando estamos angustiados, com raiva, doentes. Mas também choramos de alegria, de tanto rir e até mesmo descascando uma cebola, não é mesmo?

"Chorar tem a função de gerenciar o nosso estresse e fazer com que o corpo entre em homeostase, ou seja, sua situação de equilíbrio", descreve Carvalho. Segundo o especialista, da mesma forma que, após uma corrida, o cérebro manda mensagem para o coração baixar a frequência cardíaca e retornar os batimentos do repouso, o choro é importante para voltar ao estado mental basal.

Todo ser humano precisa expressar suas emoções de alguma forma, sejam elas boas ou ruins, e o choro é exatamente isso: a manifestação dos nossos sentimentos por meio das lágrimas.

Uma lágrima para cada tipo de situação

Nós temos três tipos de lágrimas com composições químicas diferentes: A primeira é produzida o tempo inteiro e tem a função de lubrificar os olhos e protegê-los contra micro-organismos. Ela é mais líquida e tem mais óleos (ou gorduras) que facilitam essa lubrificação, além de água, sais minerais e proteínas. A segunda é uma lágrima de proteção, que atua como um reflexo derivado de um estímulo. Por exemplo, quando cortamos uma cebola, ou deixamos cair algum objeto sobre os olhos que os deixam irritados. Nesses casos, imediatamente nossos olhos enchem de lágrima para "lavar" a região. Esse tipo de lágrima possui enzimas que ajudam a destruir algumas toxinas e bactérias.

A terceira lágrima é a que produzimos quando choramos, --chamada de lágrimas emocionais. Ela tem alguns hormônios que são responsáveis por deixar o nosso sistema um pouco mais calmo, relaxado. A ocitocina, conhecida como hormônio do amor, também está presente nesse tipo de lágrima. Essa substância, quando liberada, faz com que a gente tenha mais compaixão ou fique mais apegado a alguém que seja próximo. Além disso, ela inibe os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, no organismo.

O neurocientista André L Souza, formado pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, explica que não existem muitos estudos científicos que comprovem as substâncias encontradas nesse tipo de lágrima, devido à dificuldade de induzir certos tipos de situações. Mas há discussões a respeito. "É por isso que acredita-se que a gente fica mais calmo ou se sente um pouco melhor, porque basicamente a gente libera todas essas substâncias, esses hormônios que são responsáveis por deixar a gente mais calmo", explica o neurocientista.

O choro é sinal que precisamos de ajuda ou estamos fragilizados.

Quando nós começamos a chorar, a reação de quem está perto, normalmente é tentar ajudar de alguma forma. Isso explica o choro das crianças, especialmente as menores, que o fazem para conseguir atenção e mostrar que algo está errado, de acordo com a visão delas, claro. "As pessoas que tem esse tipo de comportamento de chorar e demonstrar para quem está perto que ela precisa de ajuda, são as pessoas que tem uma probabilidade maior de receber ajuda, logo, são pessoas que tem uma probabilidade maior de sobreviver se acontecer alguma coisa", afirma Souza.

A vulnerabilidade que, às vezes, o choro transmite, pode ser benéfica, pois ela indica que precisamos de ajuda, e dependendo da situação, pode até mesmo nos salvar de algo pior. Pessoas com transtornos psicológicos, por exemplo, podem ser ajudadas quando demonstram que estão vulneráveis. Já aquelas que se inibem, têm maior probabilidade de o problema aumentar, sem que ninguém perceba.

Nesse contexto, vale salientar que os neurotransmissores possuem um papel essencial, sendo os responsáveis por atingir um tipo de neurônio específico. É como se ele fosse uma espécie de mensageiro: diante de uma situação triste, há uma série de neurotransmissores que se comunicam com neurônios no cérebro e transmitem as informações para a glândula lacrimal, e ela, por sua vez, produz um excesso de lágrimas.

E, com isso, nós choramos, porque o sistema de drenagem da lágrima não dá conta de absorver tudo que está sendo produzido. O mesmo acontece quando estamos muito felizes e choramos de alegria ou quando estamos depressivos. Mas, lembre-se, se as emoções não forem controladas, a glândula lacrimal continua produzindo lágrimas e nós podemos chorar por horas ou até por dias, de modo intercalado, chorando e parando. Tudo depende do que será transmitido aos nossos neurônios cerebrais.

Também há pessoas que choram pouco, ou, simplesmente não choram

Como já dito anteriormente, o choro é normal. Ele faz parte da nossa realidade desde quando nascemos para expressar nossos sentimentos. No entanto, há pessoas que quase não conseguem chorar. Nesse sentido, segundo os especialistas, o choro é apenas uma das maneiras que o corpo encontra de se manifestar. Isso significa que existem outras formas de expressar os sentimentos.

"A falta de lágrimas, não quer dizer, necessariamente, a falta de emoção ou de sentimentos. Existem situações em que as pessoas são pouco empáticas e realmente não sentem medo, dó, compaixão com relação a outra pessoa, mas isso não está ligado a produção de lágrimas. Os casos que existem de pessoas que não choram, geralmente é um problema muito mais fisiológico, ou seja, ela não produz as lágrimas, do que um problema do tipo que ela não tenha as emoções", explica o neurocientista.

Por outro lado, é possível que uma pessoa não chore justamente pelo medo de passar por algum tipo de sofrimento vivido anteriormente, o que é extremamente prejudicial à saúde mental.

"Se eu não posso correr o risco de chorar por alguém e me entregar de verdade, se eu não quero sentir a dor de me decepcionar com isso, - eu também não tenho a oportunidade de estar apaixonado por alguém. E a vida vai ficando cada vez mais restrita, cada vez mais presa, sem gosto", exemplifica Dan Josua, psicólogo do InPBE (Instituto de Psicoterapia Baseada em Evidências).

Não segure o choro

Alguns estudos mostram que segurar o choro em momentos de raiva ou tristeza é muito prejudicial ao organismo. Existem evidências de que pessoas com personalidade do tipo D ("distressed" em inglês), ou seja, que experimentam sentimentos negativos, mas não conseguem expressá-los verbalmente ou por meio do choro, estão mais sujeitos a desenvolverem doenças físicas crônicas, como obesidade, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas reumatológicos e, até mesmo câncer, isso sem falar dos problemas de saúde mental.

Provavelmente, quando criança, você pode ter ouvido a frase: "se você não parar de chorar, eu vou te dar motivos para chorar". Pois bem, esse tipo de atitude recebe o nome de estilo de "parentalidade negativa". "Além de conter ameaças, desestimula que as crianças expressem suas verdadeiras emoções. Estudos apontam que os futuros adultos crescem mais inseguros ou desapegados emocionalmente como forma de defesa", diz Carvalho. Nesses casos, de acordo com os especialistas, é preciso ter paciência com o choro das crianças, pois é necessário que elas desenvolvam seu córtex pré-frontal, área do cérebro responsável pelo raciocínio, controle do impulso e gerenciamento das emoções.

Por fim, chore quando tiver vontade, independentemente do que os outros vão pensar. Se está triste e deu vontade de chorar, chore. Dessa forma a angústia e a tristeza tendem a se diluírem com mais facilidade. Se está muito feliz e deu vontade de chorar, também chore —o momento será vivido em todo seu potencial, como uma taça de vinho em que você degusta e diferencia todos os sabores. As duas atitudes fazem bem à saúde.

Fonte: Uol

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