Quarta-feira, 12 de março de 2025 Login
O Dia Mundial do Rim, celebrado neste ano no dia 13 de março, é uma campanha global que busca conscientizar a população sobre a importância da saúde renal, a necessidade de prevenção e diagnóstico precoce das doenças renais. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 10% da população tenha algum grau de doença renal crônica, muitas vezes sem saber.
Segundo o médico Nefrologista Dr. Luis Fernando N. P. Martins (CRM/PR 25.964 - RQE 18.885 / RQE 18.833), a campanha é coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e, em 2025, o tema é "Seus rins estão ok? Faça o exame de creatinina para saber!", “enfatizando a importância do exame de creatinina como uma ferramenta simples e acessível para detectar precocemente problemas renais”.
Para marcar essa data e trazer informações essenciais sobre a saúde dos rins, o Dr. Luis Fernando esclarece dúvidas importantes sobre prevenção, hábitos prejudiciais e os principais cuidados que todos devem adotar para manter os rins funcionando bem ao longo da vida. Confira:
1. Dr. Luis Fernando, a saúde renal muitas vezes é negligenciada até que surjam problemas graves. Quais são os principais cuidados que devemos adotar para proteger nossos rins e evitar doenças renais?
Para cuidar da saúde dos rins, é essencial ter um estilo de vida saudável. Cultivar bons hábitos ajuda muito na prevenção e no tratamento da doença renal. Hidratação é essencial: beba água suficiente (cerca de 1,5 a 2 litros por dia, ajustando conforme orientação médica ou condições específicas). Alimentação saudável: corte o excesso de sal, evite alimentos ultraprocessados e prefira alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais. Atividade física regular, pode ser a caminhada, pelo menos 150 minutos por semana. Não fume ou ingira bebidas alcoólicas em excesso. Monitorar e controlar a pressão arterial e glicemia. Cuidado com a automedicação, principalmente com uso de anti-inflamatórios.
2. Hábitos do dia a dia podem impactar diretamente a saúde dos rins. Quais são os comportamentos mais prejudiciais e que aumentam o risco de desenvolver doenças renais?
Beber pouca água, pode forçar os rins a concentrarem a urina, aumentando o risco de pedras nos rins e infecções. Consumir sal em excesso, presente em embutidos, salgadinhos, molhos e temperos prontos, eleva a pressão arterial e faz os rins trabalharem mais para filtrar o excesso. Uso frequente de pode causar lesões renais ao longo do tempo. Fumantes têm risco maior de doença renal crônica. Excesso de álcool. Segurar o xixi por muito tempo pode favorecer infecções urinárias. Vida sedentária. Sono irregular: Dormir mal ou pouco afeta a regulação da pressão arterial e do metabolismo.
3. Muitas pessoas não sabem quando procurar um nefrologista. Quais são os sinais de alerta que indicam a necessidade de uma consulta com esse especialista?
É verdade, muita gente só pensa em um nefrologista quando o problema já está avançado, mas identificar os sinais de alerta cedo pode fazer toda a diferença. A doença renal crônica costuma ser silenciosa, sem sinais ou sintomas, até que a situação já esteja em estágio avançado. Por isso a importância de se fazer o rastreio da doença renal crônica através da dosagem de creatinina e um exame de urina. Creatinina elevada no sangue indica que os rins não estão filtrando bem. Proteína ou sangue na urina detectados em exames de rotina podem ser sinais de doença renal.
Outros sinais que podem indicar doenças renais são mudanças na urina (urina avermelhada, urina espumosa, dificuldade ou dor ao urinar), inchaço nas pernas ou na face, fadiga, náuseas e vômitos frequentes, falta de apetite, pressão alta persistente (que não melhora com uso dos medicamentos), dor nas costas ou nos flancos.
Além da doença renal crônica, o nefrologista trata de casos como investigação de pedra nos rins, tratamento de infecções urinárias, tratamento e investigação de pressão alta, doença renal do diabetes, inflamações renais (nefrites), avaliação de cistos e nódulos renais, acompanhamento de pacientes que realizaram transplante renal e diálise.
4. A hipertensão e o diabetes são fatores de risco para problemas renais. Como essas doenças afetam os rins e qual a melhor forma de prevenção e controle para evitar complicações?
Hipertensão arterial e diabetes são, de longe, as principais causas de doença renal crônica (DRC) no mundo. A hipertensão (pressão arterial alta) danifica os rins de forma silenciosa e progressiva, sobrecarregando os vasos sanguíneos dos rins, especialmente os pequenos vasos dos filtros renais (glomérulos). Com o tempo, esses vasos endurecem (esclerose) e perdem a capacidade de filtrar o sangue adequadamente.
O diabetes, especialmente o tipo 2, é outro inimigo dos rins. Níveis altos de glicose (“açucar”) no sangue danificam os vasos sanguíneos e os glomérulos. A exposição contínua ao açúcar elevado causa inflamação e cicatrizes nos rins, reduzindo sua capacidade de filtração. Até 40% dos pacientes com diabetes desenvolvem a doença renal.
Importante salientar que o tratamento adequado da pressão alta e do diabetes ajudam na prevenção e no tratamento da doença renal. Para a maioria dos pacientes, manter a pressão abaixo de 130/80 mmHg (ou 13 por 8) ajuda a evitar a progressão para doença renal. O controle da glicemia também é essencial para esta finalidade. Além disso, hoje existem medicamentos específicos no tratamento destas condições que reduzem o risco de desenvolver ou da progressão da doença renal. Alguns destes medicamentos são disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
5. A insuficiência renal crônica ainda é um grande desafio de saúde pública, especialmente no Brasil. Como a população pode se prevenir e qual a importância do diagnóstico precoce?
A doença renal crônica (DRC), é um desafio de saúde pública no Brasil e no mundo. No Brasil, estima-se que cerca de 10% da população tenha a doença, desde estágios mais leves até os mais avançados, que necessitam de transplante renal ou diálise. O número de pacientes em diálise ultrapassa 150 mil, a maioria deles (cerca de 80%) no sistema público, com custos altos para o SUS e impacto enorme na qualidade de vida. Para reduzir este impacto, é essencial o rastreio precoce da doença renal crônica, pois o tratamento reduz o risco de necessidade de diálise ou transplante renal. É necessário também o estímulo a prevenção da doença renal e ter a disposição no sistema de saúde as medicações e tratamentos que podem reduzir a necessidade destas terapias avançadas. Outro desafio para o sistema de público é o financiamento dos serviços que realizam os tratamentos de hemodiálise e diálise peritoneal, onde os repasses estão abaixo dos custos dos procedimentos. Os serviços que dependem do SUS passam por dificuldades financeiras, causando, em alguns lugares do país, dificuldade de acesso ao tratamento dialítico.
6. Para finalizar, gostaríamos de saber o que o motivou a escolher a nefrologia como especialidade e qual é a sua mensagem para conscientizar a população sobre a importância do Dia Mundial do Rim?
Desde a faculdade de medicina a especialidade me chamava atenção, por ser muito abrangente, atuar com vários tipos de doenças, desde as mais comuns como pressão alta e diabetes, até doenças raras, de difícil diagnóstico e tratamento. A atuação do nefrologista é muito ampla, desde consultório, clínicas de diálise, centros de transplante e atuação constante no cuidado de pacientes internados e em situação crítica, na unidade de terapia intensiva (UTI). Durante a residência médica em clínica médica, que é pré-requisito para realização da especialidade em nefrologia, tive contato com médicos excepcionais desta área, referências nacionais e internacionais da nefrologia. Essa experiência despertou ainda mais meu interesse nesta especialidade desafiadora. Tinha receio por ser uma área pouco conhecida pelos pacientes, com a necessidade de muita dedicação aos estudos e que poderia ser mais difícil de atuar no mercado de trabalho do as outras áreas. Optei por iniciar especialização em cardiologia, outra área que gosto muito de estudar. Mas faltava alguma coisa, percebi que não era meu caminho. Desisti da cardiologia após quase um ano de especialização e resolvi fazer a residência em nefrologia. Enfim me encontrei. Sou apaixonado pela nefrologia, hoje consigo atuar nas áreas que mais gosto da especialidade: nefrologia de consultório e acompanhamento de pacientes internados.
Agradecemos ao Dr. Luis Fernando por tão valiosa contribuição ao Movimento Saúde. O dia Mundial do Rim é uma oportunidade de conscientizar a população sobre a doença renal crônica, que é silenciosa e muitas vezes só é detectada em estágios avançados. Divulgar informações de confiança e credibilidade colabora no aumento pela busca do diagnóstico precoce. "Seus rins estão ok? Faça o exame de creatinina para saber!".
Entrevista e redação: Rosi Rodrigues - Jornalista - DRT 10036-PR