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Hipnose: terapia, ciência ou enganação? Entenda os usos e os perigos da técnica

Publicado em 17/12/2024 às 16:56 por Editoria Movimento Saúde

A hipnose é uma técnica cercada de mistérios, mitos e uma boa dose de ceticismo. Muitas vezes retratada em filmes, shows de entretenimento e até associada a práticas esotéricas, a hipnose é, na verdade, uma ferramenta reconhecida pela ciência e utilizada na medicina e na psicologia como uma abordagem terapêutica eficaz. Contudo, quando empregada por pessoas não habilitadas, a prática pode trazer sérios riscos à saúde mental e abrir espaço para fraudes e enganações.

O QUE É HIPNOSE?

A hipnose é um estado de foco e concentração profunda, no qual a pessoa se torna mais suscetível a sugestões. Ao contrário do que muitos acreditam, a pessoa hipnotizada não perde o controle nem é manipulada contra a sua vontade. Segundo a American Psychological Association (APA), a hipnose pode facilitar a alteração de percepções, memórias e comportamentos durante o estado hipnótico.

O objetivo, em contextos terapêuticos, é acessar o subconsciente de maneira a ajudar o paciente a superar traumas, aliviar sintomas de dor ou modificar hábitos prejudiciais.

A hipnose, como técnica terapêutica, não pode ser praticada por qualquer pessoa apenas por ter feito um curso profissionalizante. No Brasil, o uso da hipnose como ferramenta de diagnóstico, tratamento ou intervenção está regulamentado por conselhos profissionais de saúde, que estabelecem os limites éticos e técnicos para sua prática.

QUEM PODE UTILIZAR A HIPNOSE DE FORMA REGULAMENTADA?

No Brasil, a hipnose é regulamentada por conselhos profissionais específicos. Ela pode ser utilizada como recurso terapêutico por:

  1. Psicólogos: A hipnoterapia é uma técnica reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) desde 2000. Psicólogos treinados em hipnose podem utilizá-la para tratar ansiedade, depressão, fobias, traumas e distúrbios do sono.
  2. Médicos: O uso da hipnose por médicos é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 1999. Especialidades como psiquiatria, anestesiologia e medicina da dor utilizam a técnica para controle da dor, anestesia em procedimentos e como coadjuvante no tratamento de transtornos mentais.
  3. Dentistas: Também regulamentada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), a hipnose é usada para controlar a dor, reduzir a ansiedade dos pacientes e facilitar tratamentos odontológicos mais complexos.
  4. Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais: Algumas abordagens complementares incluem a hipnose para reabilitação física e manejo de dor crônica.

CURSOS PROFISSIONALIZANTES E A PRÁTICA DE HIPNOSE

Embora existam cursos profissionalizantes de hipnose que fornecem formação técnica, a realização de um curso, por si só, não habilita qualquer pessoa a exercer a hipnose clinicamente. Os cursos são válidos como formação complementar para profissionais já licenciados e registrados em áreas de saúde.

Pessoas sem formação em saúde que realizam cursos de hipnose não estão autorizadas a aplicar a técnica para fins de diagnóstico ou tratamento. Elas podem, no entanto, usar a hipnose para fins de entretenimento ou desenvolvimento pessoal, desde que não façam promessas de cura ou tratamento e não violem os limites éticos e legais.

APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS E MÉDICAS DA HIPNOSE

A hipnose pode ser uma aliada poderosa no tratamento de diversas condições de saúde, incluindo:

  • Transtornos de Ansiedade e Depressão: Reduz os níveis de estresse e ansiedade ao promover o relaxamento profundo e ressignificar pensamentos limitantes.
  • Controle da Dor Crônica e Aguda: Usada em procedimentos médicos e odontológicos para aliviar a dor sem o uso de medicamentos.
  • Fobias e Traumas: Permite a ressignificação de memórias traumáticas e o enfrentamento gradual de medos irracionais.
  • Distúrbios do Sono: Facilita o relaxamento e ajuda a reprogramar padrões de sono inadequados.
  • Hábitos Compulsivos: Apoia o abandono de vícios como o tabagismo e a compulsão alimentar.

OS PERIGOS DO USO INADEQUADO DA HIPNOSE

Embora a hipnose seja uma técnica segura quando aplicada por profissionais qualificados, o uso indevido por indivíduos não habilitados pode ter consequências graves:

  1. Danos Psicológicos: A hipnose inadequada pode agravar quadros de ansiedade, depressão e até mesmo desencadear sintomas dissociativos ou alucinações.
  2. Falsas Memórias: A sugestão inadequada pode induzir memórias falsas, levando a situações delicadas, especialmente em contextos legais.
  3. Estelionato: Charlatões e falsos terapeutas se aproveitam da hipnose para prometer curas milagrosas, tirar dinheiro de pessoas vulneráveis e até mesmo manipular suas vítimas.
  4. Riscos à Saúde Física: Em casos de automedicação sugerida por hipnólogos não qualificados, pacientes podem abandonar tratamentos convencionais e agravar suas condições de saúde.

O PAPEL DA SOCIEDADE E A IMPORTÂNCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO

A prática responsável da hipnose deve ser incentivada e protegida. A população precisa ser informada sobre os benefícios reais dessa técnica e, ao mesmo tempo, estar ciente dos perigos de buscar tratamento com pessoas não qualificadas.

Antes de optar por sessões de hipnose, é essencial:

  • Verificar as Credenciais do Profissional: Certificar-se de que o terapeuta ou médico está registrado em um conselho de classe.
  • Desconfiar de Promessas Mirabolantes: Qualquer profissional que garante cura imediata ou soluções mágicas deve ser questionado.
  • Denunciar Práticas Irregulares: Casos de fraude devem ser reportados às autoridades competentes e aos conselhos profissionais.

A hipnose é uma ferramenta poderosa que pode transformar vidas quando usada corretamente por profissionais habilitados. No entanto, a linha entre terapia e charlatanismo é tênue, e a sociedade precisa estar atenta para evitar que práticas não regulamentadas causem danos psicológicos e financeiros. A informação é a melhor aliada para garantir que a hipnose seja utilizada com ética, segurança e em benefício da saúde mental e física.

Referências

  • American Psychological Association (APA)
  • Conselho Federal de Psicologia (CFP)
  • Conselho Federal de Medicina (CFM)
  • Conselho Federal de Odontologia (CFO)
  • Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH)
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