Domingo, 10 de novembro de 2024 Login
Pauta diária obrigatória na imprensa de todo o mundo desde o final de 2019 e início de 2020, a pandemia de Covid-19 vai caminhando para a estabilidade. A doença entra para a história e marca a vida das pessoas com sequelas para quem desenvolveu a forma grave da doença, mas também para quem apresentou quadro leve.
Aprendendo a conviver
Além do medo, que abala o estado emocional, uma parcela grande das pessoas que tiveram covid vai ter que aprender a conviver, por tempo indeterminado, com a falta de olfato, alterações no paladar, fraqueza, cansaço, dores musculares, e outras situações que vão surgindo e engrossando a lista dos danos pós-covid.
Entre os danos, um dos mais importantes é o comprometimento pulmonar, que causa episódios falta de ar, principalmente naqueles pacientes que precisaram ser internados. “A falta de ar piora a sensação de medo, porque a gente já se imagina tendo que ir para a UTI, ser intubado e como são muitos os relatos de mortes em situações assim, bate o desespero”, conta Wilson Roberto, 67 anos, que passou 16 dias internado no Hospital do Câncer de Umuarama (Uopeccan). “E eu fiquei só na enfermaria”, completa.
Sequelas pulmonares
O pneumologista Renato Ricci Kauffmann (CRM 29.341) esclarece que algumas sequelas pulmonares não são restritas às complicações da covid. Porém, a exposição que a doença teve na mídia criou essa ilusão. Sequelas semelhantes são deixadas por outras doenças pulmonares, como pneumonia, a gripe grave ou tuberculose, especialmente em pacientes que estiveram em UTI ou intubados por longos períodos. “Pacientes que tiveram algum processo infeccioso, não só Covid, dependendo da gravidade, podem desenvolver sequelas pulmonares com redução da função pulmonar e prejuízo na qualidade de vida”, aponta.
Atendimento multidisciplinar
Focando nas consequências da covid, o especialista aponta que a doença causa inflamações nas membranas pulmonares deixando sequelas que podem ser permanentes. Muitos pacientes desenvolvem a fibrose pulmonar, que pode provocar danos irreparáveis, limitando a capacidade respiratória. Isso porque, nesse processo inflamatório, vírus e estado imunológico travam uma luta, e nesse embate liberam líquidos, proteínas e toxinas inflamatórias, que são substâncias prejudiciais às membranas do pulmão. “A infecção pela Covid deixou uma legião de pacientes com sequelas pulmonares, sendo a mais comum a fibrose, tornando-os muitas vezes dependentes de oxigênio. A necessidade de um atendimento multidisciplinar é essencial”, destaca o especialista.
Mesmo quando o estado imunológico vence a luta, pondo fim ao processo infeccioso, a recuperação das membranas pulmonares pode não ocorrer de forma completa. Isso depende da extensão de área pulmonar comprometida. “Vários pacientes apresentam cerca de 80, 90% de acometimento pulmonar, ou seja, um processo inflamatório intenso, que em muitos casos evoluíram com sequelas pulmonares”, conclui Dr. Renato.
Novos limites do corpo
Resultado preliminar de um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), com 750 pacientes que ficaram internados no primeiro semestre de 2020 no Hospital das Clínicas, mostram que, mais de um ano depois de terem passado pela Covid-19, 30% ainda possuem alterações pulmonares importantes.
Parte dos pacientes também relata sintomas cardiológicos e emocionais ou cognitivos, como perda de memória, insônia, concentração prejudicada, ansiedade e depressão. Os participantes serão acompanhados por quatro anos.
Esses 30% que apresentaram alterações pulmonares precisarão de reabilitação com fisioterapia, a médio e longo prazos.
A orientação para a recuperação da saúde do pulmão é que os pacientes adotem hábitos saudáveis, como não fumar e não ingerir bebida alcoólica, mantenham uma dieta alimentar equilibrada e a prática moderada de atividades físicas, que pode começar com caminhada leve, respeitando os novos limites.
Foto - Hudson Fernando