Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 Login
Por: Gisele Texdorf Martins*
O Dia de Finados, realizado em 2 de novembro, é um momento de saudade e de homenagem aos que partiram. Neste contexto, refletir sobre como as crianças enfrentam a morte e o processo de luto torna-se essencial para um entendimento mais amplo sobre o sentido da vida e da finitude. Para compreendermos o luto infantil, é necessário primeiramente conceituar termos como morte, morrer, luto e mundo presumido.
A tanatologia, ciência que estuda os aspectos da morte e do morrer, nos ajuda a entender como o impacto da perda desmorona o "mundo presumido" — a visão de que o mundo seguirá conforme o planejado. A morte existe, e o processo de morrer ocorre quando essa realidade irrompe em nossas vidas, desestruturando o caminho idealizado. Quando os adultos enfrentam esse momento, eles possuem recursos emocionais e cognitivos mais maduros para compreendê-lo. Contudo, como lidar com o luto infantil, considerando que a percepção de uma criança é bastante distinta?
COMO AS CRIANÇAS COMPREENDEM A MORTE?
A compreensão da morte nas crianças depende do seu estágio de desenvolvimento. Crianças muito pequenas, com pensamento predominantemente concreto, tendem a interpretar informações de forma literal. Dizer que uma pessoa “virou uma estrela” pode ser compreendido literalmente, e a criança pode esperar rever essa pessoa no céu, sem entender a irreversibilidade da morte. Em desenhos animados, personagens frequentemente “morrem” em uma cena e ressurgem na próxima, reforçando essa ideia. Essa percepção pode criar uma confusão quanto à permanência da morte, algo que ainda não é claro para elas.
Para crianças em torno dos nove anos, o entendimento da irreversibilidade da morte começa a se solidificar. Eles sabem que pessoas queridas falecem, mas ainda podem ter dificuldades em aceitar essa realidade. Na adolescência, já pode haver plena consciência da finitude, mas a ideia de imortalidade pessoal permanece; por isso, comportamentos de risco são comuns, refletindo uma negação inconsciente da vulnerabilidade.
COMO ACOLHER O LUTO INFANTIL
Entender o luto infantil requer que observemos o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Todas as crianças, independentemente da idade, merecem saber a verdade sobre a morte, mas essa comunicação deve ser adaptada à sua compreensão. Ao permitir que uma criança expresse sua dor, sem escondê-la ou mascará-la, mostramos que a tristeza é uma emoção natural e saudável.
Negar ou omitir o sofrimento não protege a criança, ao contrário, pode fazer com que ela acredite que o certo é esconder o que sente. Essa retenção emocional pode se manifestar a longo prazo, desencadeando ansiedade, depressão e outros problemas emocionais. Uma criança que vive o luto, muitas vezes, não expressa sua dor em palavras, mas em comportamentos como isolamento, choro, agressividade ou até regressão em seu comportamento. O ideal não é forçar a criança a verbalizar o que sente, mas criar um ambiente em que ela se sinta à vontade para falar ou expressar sua dor de outras formas.
O VELÓRIO E A PARTICIPAÇÃO DA CRIANÇA
A dúvida sobre levar ou não uma criança ao velório é comum. Essa é uma decisão que deve ser tomada de forma cuidadosa e respeitando a vontade da criança. Explique-lhe de forma adequada o que ela verá, sempre respeitando seu desejo de não participar caso não se sinta confortável, é a melhor abordagem.
LUTO INFANTIL: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
O tema da morte permanece um tabu em nossa sociedade, o que torna o luto ainda mais difícil para todos, especialmente para as crianças. Refletir sobre a morte nos lembra a importância de viver com qualidade e de forma plena. Em tempos em que a busca pela felicidade instantânea não deixa espaço para o sofrimento, é essencial entender que o luto faz parte da vida, que chorar faz bem, e que a tristeza não é uma doença.
Permitir que as crianças vivam o luto, acolhendo seus sentimentos e respeitando suas necessidades, é uma forma de mostrar a elas que o luto é o preço do amor. Hoje, mais do que nunca, devemos honrar não só a memória dos que partiram, mas também os sentimentos dos que ficam. Afinal, o luto infantil é uma expressão de amor, e, nesse caminho, a escuta, o acolhimento e o apoio especializado podem fazer a diferença na jornada da criança diante da perda.
Gisele Texdorf Martins
Psicóloga CRP 08/10329
Pedagoga
Especialista em Psicologia da Saúde e Hospitalar
Especialista em Saúde Mental
Especialista em Humanização e Cuidados Paliativos
Formação em Cuidados Paliativos Pediátricos
Formação em Tanatologia
Formação em Psicologia dos Extremos
Mestrado em Teologia & Cuidado Pastoral
Membro da ABEPS _ Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio
Membro da ANCP – Agencia Nacional de Cuidados Paliativos
Professora universitária e proprietária da clinica Acolher Psico & Lutos
Atendimento Online e Presencial
@acolherpsicoelutos Visite a página de Gisele no Instagram.