Domingo, 8 de dezembro de 2024 Login
A relação das crianças e coronavírus ainda está sendo estudada e conhecida aos poucos, assim como outros efeitos da Covid-19. Apesar de a doença ter atingido mais intensamente faixas etárias mais elevadas, especialistas têm alertado que não podem ser subestimados os impactos do coronavírus no público infantil. Prova disto foi a morte de uma criança de cinco anos no dia 12 de maio no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), por Covid-19. Foi a primeira morte de uma criança no Paraná pela doença.
Segundo informações divulgadas pelo próprio hospital, a criança era paciente do setor de Neurologia e fazia tratamento há um ano. O menino deu entrada no dia 22 de abril no Pequeno Príncipe com uma crise convulsiva. Na ocasião foi realizado um exame, com resultado positivo para infecção por coronavírus. Ele precisou de atendimento na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O Hospital Pequeno Príncipe, por meio de nota, comunicou que a criança não conseguiu se recuperar devido à sua condição pré-existente.
Apesar desse quadro de saúde anterior da criança, o caso deixa um alerta. O número de confirmações de crianças infectadas pelo coronavírus é pequeno diante da quantidade total de casos, mas esses registros não podem passar despercebidos. Em Curitiba, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde divulgados no dia 8 de maio, eram três casos em crianças com menos de um ano; 12 casos, entre 1 a 9 anos; e 14 casos entre 9 e 19 anos, dentro de um total de 723 confirmações.
"Em Curitiba, não estamos vendo tantos casos em crianças porque os pais aderiram às medidas propostas e as escolas estão com as atividades suspensas. De qualquer forma, é preciso ficar atento", opina o médico infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior, vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe, um dos hospitais de referência no atendimento pediátrico em todo o Brasil.
Além disto, o cuidado precisa ser redobrado porque especialistas vêm divulgando que crianças e coronavírus podem apresentar uma relação de ausência de sintomas. No entanto, isso não significa que seja grave: a criança estará, mesmo assintomática, sendo uma transmissora do vírus. "A criança, mesmo sem sintomas, transmite por 14 dias", salienta Costa Júnior.
De acordo com ele, os pais devem ficar atentos porque crianças infectadas pelo novo coronavírus podem desenvolver Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com o surgimento de sintomas como febre, tosse, dor de cabeça e deficiência respiratória, que pode variar entre leve e grave. "É preciso pensar sim em coronavírus quando crianças apresentam esses sintomas", indica. Quando há o diagnóstico, recomenda-se o isolamento por 14 dias, com tratamento para o controle do sintomas e a redução do processo inflamatório.
Crianças e coronavírus: além do quadro respiratório
O médico infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior afirma que a Covid-19 ainda precisa ser mais estudada. Mas, até o momento, é possível verificar que o vírus não causa apenas quadros respiratórios, mas também uma evolução para quadros de insuficiência renal e cardíaca. Essas consequências podem acontecer em crianças. "Nos casos mais graves, evolui para quadros sistêmicos", comenta.
Também surgiram relatos de lesões de pele como consequências da infecção pelo novo coronavírus, inclusive em crianças. Há também lesões que ficaram conhecidas como "pé de Covid", por aparecerem nos dedos dos membros inferiores. Esses sintomas surgiram independentemente do quadro respiratório, conforme esses relatos. Já existem trabalhos internacionais sobre o tema. Na Itália, por exemplo, um levantamento feito com 88 pacientes italianos mostrou que 20% deles tiveram lesões na pele - os pacientes não eram necessariamente crianças. Em alguns casos, essas erupções lembraram urticárias ou sarampo.
Outro trabalho publicado nos Estados Unidos relatou manchas escuras, parecidas com queimaduras, e em pacientes sem o quadro respiratório, mas com confirmação de infecção por coronavírus. "Mas é importante salientar que a Sociedade Brasileira de Dermatologia não considera esse um critério para diagnóstico de Covid-19", esclarece o médico infectologista do Hospital Pequeno Príncipe. A entidade informa que, até o momento, não existem evidências comprovadas de que exista relação entre o coronavírus e lesões na pele. Por isso, orientou médicos a redobrarem a atenção para registrar e catalogar, com fotos e exames histopatológicos, manifestações cutâneas em pacientes com Covid-19.
Reflexo
De acordo com Costa Júnior, a adoção de medidas para proteger as crianças do novo coronavírus, como o isolamento social, a suspensão das atividades escolares, distanciamento, higienização das mãos e a etiqueta da tosse, fez com que houvesse redução na incidência de outras doenças. O atendimento pelos convênios na emergência do Hospital Pequeno Príncipe, a principal referência no atendimento pediátrico em Curitiba, caiu 80% no mês de abril. Em um período considerado normal, a média seria de 12 mil atendimentos no mês. Mas em abril de 2020 foram 1,8 mil. "Entretanto, existe um outro lado de ficar mais em casa: alguns casos, quando chegam no hospital, já estão em um estágio mais grave", revela o médico, indicando uma demora em procurar ajuda após o aparecimento de sintomas.
Por isso, apesar das medidas de prevenção, os pais devem ficar atentos a sintomas de diferentes doenças e consultar os médicos que já acompanham os filhos ou mesmo levar em serviços de emergência dos hospitais, adotando os cuidados necessários.
Prevenção
Victor Horácio de Souza Costa Júnior acredita que ainda não seja o momento de relaxar nas medidas de prevenção ao novo coronavírus, pois não há um tratamento específico para a doença. "A prevenção é a nossa vacina", enfatiza.
Além dos cuidados já citados, existe um questionamento sobre o uso de máscaras por parte das crianças. Segundo a equipe do Hospital Pequeno Príncipe, as crianças, apesar de não estarem no grupo de risco para casos mais graves, podem ser contaminados pelo novo coronavírus e também transmití-lo. Por isso, a recomendação é para que usem a máscara quando saírem de casa.
No entanto, crianças menores de dois anos não devem utilizá-la, pois têm vias aéreas menores e o uso da máscara aumenta o risco de asfixia. Além disto, nessa idade, elas não conseguem manusear o equipamento de segurança com facilidade e a própria máscara pode gerar incômodo, aumentando o risco de infecção.
*Texto original do site Saúde Debate*